Navegando Posts publicados em junho, 2019

Paolo Cognetti e sua viagem ao Himalaia

O caminho é muito mais precioso do que o cume.
Paolo Cognetti

Ao longo dos anos resenhei cerca de dez livros sobre o Himalaia escritos por alpinistas que atingiram o pico do Everest ou, então, uns pouquíssimos eleitos que acessaram as 14 montanhas acima dos 8.000, todas na cadeia himalaia, caso específico do notável alpinista português João Garcia (vide blogs “14 – Uma vida nos tectos do mundo”, 2 e 9/07/2016). Essa temática sempre me causou surda empolgação, mercê da aventura perigosa, dos percalços para se atingir cumeeiras e até relatos de alpinistas que tiveram companheiros mortos nas empreitadas.

Com o tempo, um emaranhado de empresas de toda sorte, a abranger organizações que levam ou tentam levar “turistas” a preço de ouro ao ponto mais alto do planeta, que vendem material especializado para acesso à montanha, que agendam viagens até o Nepal ou o Tibete, que alugam o trabalho braçal dos sherpas, criam, em meses propícios à ascensão, um enxame de majoritariamente pretensos alpinistas. Ultimamente forma-se verdadeira fila indiana de interessados a banalizar a ascensão. A cada dia acentua-se o culto ao “maior”, seja de qual área for. O Everest, sendo o teto do planeta, 8.848 metros de altitude, assiste a essa legião que busca a mais elevada montanha. Só de pensar que o K2 (8.611 metros), com apenas 237 metros abaixo de Everest, é minimamente procurado, não só por ser muitíssimo mais difícil de ser acessado, mas prioritariamente por ser o segundo. Faz-me lembrar meus anos de estudos em Paris do final da década de 1950 ao início dos anos 1960. Estava no Louvre, visitado algumas vezes durante esse período, quando uma única vez fiquei à frente da Mona Lisa. De repente ouvi barulho de passos que se acentuava desmesuradamente. Eram turistas japoneses. Pararam diante do quadro pequeno, escuro e emblemático, tirando fotos. Após o ato, em desabalada carreira desapareceram. Já àquela altura entendi melhor a noção da superficialidade humana.

Foi-se o tempo do Everest misterioso, que levou à morte Mallory e Irvine em 1924 e glorificaria Edmund Hillary e o sherpa Tenzig Norgay em 1953, os primeiros a pisarem o topo do mundo. Desvendado por centenas de montanhistas, sepultura aberta para um número elevado daqueles que sucumbiram sem resgate, a montanha mais alta do planeta hoje perdeu essa aura de invencibilidade. Reage por vezes ceifando vidas, mas é inundada anualmente por grupos cada vez maiores de pretensos aventureiros.

A premissa se faz necessária, pois em Maio, ao visitar uma das muitas livrarias parisienses, deparei-me com um livro que de imediato chamou-me a atenção, pois mostrava a razão da narrativa, ou seja, a proposta voluntária do autor de não atingir qualquer cume do Himalaia, mas a de atravessar passagens até 5.400 metros de altitude numa caminhada de 300km a pé. Paolo Cognetti, escritor italiano consagrado, teve vários livros vertidos para o francês e “Senza mai arrivare in cima” foi um deles (“Sans jamais atteindre le sommet”, Paris, Stock, 2019). Recebeu o prêmio Médicis em 2017 destinado à obra estrangeira pelo livro “Huit Montagnes”.

Depreende-se da leitura a presença do observador atento à natureza, à fauna, à flora, àqueles que se lhe deparam no longo trajeto, à reação dos dois amigos que o acompanharam, aos costumes dos habitantes dos lugarejos atravessados na longa caminhada, às tradições dos vários sherpas e às suas próprias alterações físicas motivadas pelo cansaço e pelo ar por vezes rarefeito. Quando transpunha os 5.000 metros já sentia irresistível fadiga, o que leva o leitor a entender o título do livro. Escreve Cognetti: “Faço-me a pergunta: não pareceria talvez a sensação que se tem da velhice? Economizar o menor gesto, em um corpo já cansado de estar no mundo”. Em sua bagagem havia um livro inspirador lido e relido, “Le Léopard des neiges”, de Peter Matthiessen (Paris, Gallimard, 1983, tradução de Suzanne Nétillard). Não hesita em mencionar nessa incursão himalaia citações do livro em contextos possíveis. Curiosamente, Matthiessen empreendeu viagem na região montanhosa a fim de ver o raríssimo leopardo das neves. Não atingiu seu desiderato fundamental, mas regressou enriquecido com o que vivenciou nas alturas e, entre esses encantamentos, vislumbrar o carneiro azul. Para Cognetti, a viagem ao Himalaia representava “meu adeus a esse outro reino perdido que é a juventude”, pois o autor já se encontra na juventude da idade madura, em seus quarenta anos.

Na narrativa, Cognetti repetidas vezes menciona o mantra inscrito nos paredões rochosos, Om mani padme hum (“A joia no coração do lotus”) e redige em seu caderno: “uma frase misteriosa, a ter mil interpretações possíveis do invisível escondido no interior daquilo que vemos”.

Em Tsakang, o autor segue um monge budista e assiste a cerimonial. Lembra-se de texto de Matthiessem que, ao questionar um lama sofrendo de artrite no mesmo local que estava a visitar, dele recebe a resposta: “Sou feliz aqui! É maravilhoso, mormente pelo fato de não ter eu escolha!”. A observação relacionada aos costumes de cada localidade nepalesa é sempre fulcral. Busca inteirar-se, não poucas vezes penetra as moradas de camponeses das montanhas ou planícies. O autor faz referência ao iaque, herbívoro de extensa pelagem indispensável na região por sua múltiplas funções. Cognetti, estando em Charka, observa: “Degustava pela primeira vez o chá salgado da manteiga do iaque: bem desagradável quando sabemos se tratar de chá, bom e reconfortante quando apresentado como sopa”. Costumes a partir da realidade do entorno e da crença levam Gognetti a descrever um enterro, após vislumbrar corvos sobrevoando uma colina: “Chegamos em pleno funeral, pois em Dolpo as sepulturas celestes ainda são praticadas. Nessa altitude, não há madeira suficiente para as cremações. Assim, cadáveres são desmembrados e transportados em pedaços para uma colina onde as aves de rapina fazem seu trabalho. Para os budistas, nosso corpo é feito de elementos que o universo nos empresta e, logo que a vida o abandona, necessário se faz devolvê-lo: a matéria que nós habitamos tornar-se-á ar, água, terra; são os pássaros que se incumbem de retorná-la à circulação”.

Paolo Gognetti tece bela observação sobre o vento: “Ninguém o veria se ele não provocasse algo a tremular: as bandeiras tornam visível o invisível. O abutre quebra-ossos e outras aves de rapina subiam aos ares, asas abertas e imóveis, ministros do culto das alturas”. Pormenoriza a sensação que o impacta ao ver uma águia ferida, assim como, em várias situações do livro, menciona Kanjiroba, uma cadela que o acompanharia durante parte considerável do trajeto.

A leitura de “Sans jamais atteindre le sommet”, iniciada durante o voo Paris-São Paulo, seria oportuna para legião de pretensos alpinistas que dispende somas altíssimas em busca da ilusão de atingir o cume do Everest. Mortes e subidas fracassadas preenchem estatísticas. Saint-Exupéry já escrevia que “a vaidade não é um vício, mas uma doença”. O livro de Paolo Cognetti corrobora a opinião de tantos sensatos, que buscam na caminhada pelas altas montanhas o prazer indizível de estar nas alturas sem pretensões egocêntricas. Certamente seus olhares são definitivos, não apenas de passagem. Agradável leitura e uma lição de como planejar uma viagem como observador atento.

Comments on the book “Sans Jamais Atteindre le Sommet” (Without ever reaching the top), by the Italian writer Paolo Cognetti. Now that Mount Everest is congested with trekkers in queues at bottlenecks on their way to the summit, it is a great relief to read about a journey on foot above 5000 meters  in the remote region of Dolpo — in the Nepal Himalayas — without intention of reaching any summit. Attentive observer of the magnificence of nature, of people he meets, of living conditions in an exotic land lost in time and of his own physical limits, the author offers travel literature at its best, a heroic adventure one devours with pleasure.

 

 

Repertório a evidenciar identidades românticas no final do século XIX

 

A arte exige uma liturgia, um ritual,
que se prende com a fonte da dádiva e a aproximação do amor.
Miguel Real

O SESC promoveu três recitais a comemorar o lançamento do CD “O Romantismo de Henrique Oswald”, eventos mencionados no último blog. Dois decorreram no correr dos dias em Santos e São Paulo e o terceiro dar-se-á em São José dos Campos neste sábado em que o blog é publicado. O CD, a privilegiar obras para violino e piano e piano solo do ilustre compositor, não pôde contar com a presença do violinista Paul Klinck. Com ele preenchemos sete das 24 faixas do CD. Compromissos inadiáveis na Bélgica o impediram de viajar.

Não necessariamente interpretei as peças constantes do CD, mas as que não pertenciam à gravação lançada na semana têm intrínseca relação com a obra do compositor, seja sob o aspecto de uma correspondência de tendências composicionais que perduravam na Europa nesse prolongamento do longo período romântico que, atravessando o século XIX, ainda subsistiu durante décadas no século XX, quando sistemas outros da linguagem musical surgiram e se diversificaram, seja como homenagens ao notável músico.

Essa certeza fez-me buscar no programa apresentado algumas identidades. Primeiramente, após interpretar “Il Neige”, de nosso mais importante compositor romântico, apresentei duas homenagens prestadas a Henrique Oswald e compostas para um caderno que coordenei, publicado pela Universidade de São Paulo em 1985. Das oito obras, compostas expressamente por criadores de expressão, duas constaram do programa em pauta, tendo intrínseca relação com “Il Neige”, essa extraordinária criação oswaldiana premiada em Paris no ano de 1902 em concurso promovido pelo jornal “Le Figaro”. Concorreram 647 peças compostas por autores de muitos países, sempre com pseudônimos, a fim de não interferência na deliberação do júri, constituído por três músicos essenciais: Gabriel Fauré (1845-1924), Camille Saint-Saëns (1835-1921) e Louis Diemer (1843-1919). “Il Neige” obteve o primeiro prêmio. Francisco Mignone (1897-1986) compôs “Il Neige encore” e Gilberto Mendes (1922-2016), “Il Neige de nouveau”.

A seguir apresentei as singelas oito “Peças Líricas” op. 12 do grande compositor norueguês Edward Grieg (1843-1907), pois elas pertencem a esse universo da pequena peça, tão frequentada por inúmeros criadores do período. Seguiram-se três peças de Oswald da coletânea a conter dez “Bluettes”, que constam do CD. É nítida a aproximação de caráter desses dois cadernos.

“Um Rêve”, idílica criação que Oswald dedica à sua aluna e primeira biógrafa, Leozinha Magalhães, é de pleno lirismo e recebeu acolhida emocionante em Santos e São Paulo.

Seguiu-se outra comparação, desta vez com o grande Gabriel Fauré. Dele apresentei o “Nocturne” nº 4, certamente o mais conhecido entre os 13 magistrais compostos pelo músico francês. Dos dois “Nocturnes” op. 6 de Oswald, apresentei o nº 1 em lá bemol maior. Entendo-o muito próximo da proposta de Fauré.

Em sequência, interpretei o segundo dos três Estudos de Oswald em seu original, pois quando impresso, juntamente com os dois outros, sofreria alterações rítmicas.

Finalizando o programa, a “Valse Caprice” op. 11 nº 1 caracteriza-se pela plena vivacidade e temas contagiantes. Em Santos e em São Paulo o público reagiu bem à proposta do programa.

Quanto à escolha das peças, entendo que prioritariamente deve-se ter um fio condutor, diria mais, coerência na seleção das obras. A escuta pública de um programa deveria ser acompanhada por certo didatismo, a indicar o porquê sequencial. Essa postura corrobora a compreensão histórica, a ligação estilística e a evolução das linguagens para o público potencialmente interessado e ávido de conhecimento.

Dois dias antes do recital em São Paulo participei do programa “Via Sampa” da USP FM (93.7), entrevistado pela competente Miriam Ramos. Nos 60 minutos programados conversamos sobre a importância de Henrique Oswald na música brasileira. Durante 14 anos de meus tempos na Universidade de São Paulo coordenei a programação de “Concerto”, levado ao ar diariamente no período noturno e contando com a presença de colegas músicos de diversas áreas. Estiolou-se “Concerto” após minha aposentadoria em 2008.

Fica neste espaço a minha admiração pelo SESC, que prima pela competência na edição de CDs. Desde a edificação do projeto “O romantismo de Henrique Oswald”, à tramitação interna realizada por profissionais categorizados, à produção executiva de Dulce Maltez, às fotos de Evelson de Freitas e ao projeto gráfico sensível de Rodrigo Sommer, nenhum item deixou de estar impecável.

To celebrate the release of the CD “O Romantismo de Henrique Oswald”, entirely devoted to works of the most important Brazilian romantic composer, SESC (Serviço Social do Comércio) has scheduled three recitals, the last one to be held on the 22nd of June in São José dos Campos. The recitals programme also includes works by Grieg, Fauré, Francisco Mignone and Gilberto Mendes in which there is some identity with Oswald’s production. I want to express in this post my recognition for SESC superlative work in the CD production, impeccable from every angle, thus helping preserve a repertoire that is important for Brazilian and world music.

Recitais de piano a comemorar lançamento de CD

Escuta, escuta: tenho ainda
Uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Eugénio de Andrade

O selo SESC está a lançar gravações que realizei na Bélgica com obras de Henrique Oswald (1852-1931), o mais importante compositor romântico brasileiro. Recitais foram agendados pelo SESC em três cidades: Santos (15 de Junho, sábado, às 20h, R. Conselheiro Ribas, 136), São Paulo (18/06, terça, às 13h, Igreja da Boa Morte, Rua do Carmo, 202, Centro), São José dos Campos (22/06, sábado, às 19h30, Av. Dr. Adhemar de Barros, 999).

Insiro o texto que escrevi, incluso no bem cuidado encarte que acompanha o CD:

“Vinte anos separam dois segmentos do presente CD. Um breve apanhado de sua biografia torna-se necessário, mormente aos leitores que têm acessado mais recentemente meu blog.

Henrique Oswald nasceu no Rio de Janeiro, filho de pai suíço-alemão e de mãe italiana. Viveu a infância e a adolescência em São Paulo, partindo com a mãe para Florença, onde estudaria e viveria durante décadas. Casou-se e teve quatro filhos, entre os quais o pianista Alfredo Oswald e Carlos Oswald, que se tornaria o pioneiro da gravura em metal no Brasil. Em 1902 receberia o primeiro prêmio por sua composição “Il Neige”, láurea recebida do jornal “Le Figaro” em Paris, em concurso em que concorreram 647 peças de autores de todo o mundo. Após breves viagens ao Brasil, retornaria definitivamente ao país em 1903, onde inicialmente dirigiu o Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Permaneceu no Estabelecimento durante décadas, tendo orientado gerações de músicos que se destacaram no cenário brasileiro. Faleceu em 1931 no Rio de Janeiro. A obra de Henrique Oswald abrange vários gêneros: sinfônico, camerístico, coral e sobretudo piano solo.

Primeiramente temos obras para violino e piano, gravação realizada em Bruxelas para o selo PKP em 1995. O violinista belga Paul Klinck e eu gravamos a integral para violino e piano do notável compositor. Em 2015, também na Bélgica, na pequena cidade de Mullem, gravei obras de Oswald para piano solo.

Selecionamos, do CD de 1995, a “Sonata op. 36”, de 1908, e três peças avulsas. A “Sonata op. 36” em mi maior tem quatro andamentos, sendo das mais significativas Sonatas do período em termos mundiais. Composta em 1908, foi apresentada em primeira audição em 1912 no INN do Rio de Janeiro, tendo o compositor ao piano e Ricardo Tatti ao violino. Dos seus quatro andamentos contrastantes, o terceiro, “Andante, molto expressivo”, fora composto anteriormente. Das nove peças avulsas que integravam o CD de 1995, separamos três, nas quais a filiação romântica é plenamente detectada. A “Romance op. 7 nº 2” é uma transcrição de uma “Romance sans paroles” para piano, enquanto a “Romance” (andante con moto) é original para violino e piano (1904). Bem posteriormente Henrique Oswald comporia o expressivo “Nocturne” (1926).

As obras para piano solo foram gravadas na Capela Saint Hilarius em Mullem, Bélgica Flamenga, em 2015. A destinação para piano solo é nítida em Oswald. Foram dezenas de pequenas peças para o instrumento, que se apresentam reunidas em coletâneas de até seis peças, como Suítes e Feuilles d’Album, ou mesmo no formato miniaturas, como as “Machiettes” (12 peças) ou “Bluettes” (10), estas presentes no atual CD. Há também criações curtas avulsas. Essas composições destinavam-se a saraus da classe social que cultuava a criação de curto fôlego, tanto na Europa como no Brasil do século XIX às primeiras décadas do século XX.

Na configuração miniaturas, a coletânea “Bluettes” (Dix petits morceaux pour piano) representa quadros de flores e foi composta entre 1887-1888 em Florença. O manuscrito autógrafo, que me foi presenteado pela neta do compositor, Maria Isabel Oswald Monteiro, apresenta as peças de nº VII e VIII anuladas pelo autor através de riscos precisos. Um estudo mais acurado, contudo, levou-me a considerá-las válidas, pois estão rigorosamente perfeitas na escrita. Essa assertiva preserva a bela coletânea, portanto dando vida às flores “Bluet” e “Pervenche”. Posteriormente, Oswald editaria seis das “Bluettes”, mas não mais com nomes de flores e sim de sentimentos, num álbum denominado “Sept Miniatures”.
As duas “Valsas op. 25” tipificam a destinação da pequena peça para apresentação em saraus de uma sociedade florentina burguesa com olhar aristocrático. Essa prática era bem sedimentada em alguns países europeus. Comunicativas, as duas “Valsas” foram editadas no período.

“En Rêve” é composição idílica e foi dedicada à aluna e admiradora Leozinha Magalhães, primeira biógrafa do compositor. O filósofo e musicólogo francês Vladimir Jankélevich considera que “Noturno”, “Berceuse”, “Barcarola” e “Revêrie” fazem parte de um mesmo universo ondulante. Aliás, são inúmeras as criações de Oswald obedecendo a essa dedicação precisa. Os dois “Nocturnes op. 6” situam-se entre o que de melhor no gênero foi escrito no período. Faz-se presente a influência francesa. Oswald, em muitas de suas composições para piano, evidencia a nítida admiração por César Franck (nascido na Bélgica), Camille Saint-Saëns e Gabriel Fauré.

Dos “Trois Études” para piano de 1910, Oswald realizaria versão orquestral do primeiro, sob o título “Paysage d’Automne”. Do segundo “Étude”, duas versões, sendo a segunda editada juntamente com os dois outros “Études”. Optei pelo primeiro manuscrito, não editado. Neste, Oswald não emprega o ritmo sincopado na melodia encontrável na segunda versão. Como é o único dos três “Études” sem indicação de andamento, a rítmica utilizada no manuscrito primeiro tende para uma interpretação mais cômoda.

Encerra o CD a extraordinária “Valse-Caprice op. 11 nº 1”. Temas contagiantes e virtuosidade caracterizam a “Valsa-Caprice”. Juntamente com a “Polonaise” de 1902, dedicada à pianista Antonieta Rudge, tem-se, possivelmente, as duas criações mais esfuziantes para piano de Henrique Oswald”.

Recentemente em Paris entreguei ao compositor François Servenière o CD “O Romantismo de Henrique Oswald”. Recebi sua apreciação, que transmito ao leitor. Ela diz muito do resultado da escuta de parte considerável da obra do ilustre compositor pátrio homenageado no CD:

“Ouvi atentamente o CD dedicado a Henrique Oswald. Sobre o duo, apenas retomo minhas considerações airosas já expressas em meu livro Réflexions. O piano solo está incluso na mesma linha filosófica e intensamente sensual. Afigura-se-me Oswald como um compositor fora do campo histórico, mesmo valendo-se, evidentemente, da linguagem de seu tempo. Ouvindo através de seus dedos, invade-me a ideia que tive quando na Piazza Navona, a degustar um daqueles Gelatos que fazem a notoriedade do lugar, na contemplação simultânea do maravilhoso lugar sob o sol romano. A cada peça do CD há a mudança do perfume, da mistura das cores e, durante todo o transcurso da audição até a nota final, a sensação da escuta deliciosa”.

No dia 17 de Junho, segunda-feira, darei entrevista para a Rádio USP (93.7 FM) no programa das 12:00. Comentarei a escolha do repertório do CD “O Romantismo de Henrique Oswald”. Algumas obras constantes do CD poderão ser ouvidas.

This month SESC (Serviço Social do Comércio) label launches a CD entirely devoted to works by Henrique Oswald (1842-1931), the most important Brazilian romantic composer, with recitals in Santos, São Paulo and São José dos Campos. In the first segment of this album we have works for violin and piano recorded in Brussels in 1995, when the Belgian violinist Paul Klinck and I registered Oswald’s entire repertoire for violin and piano. In 2015, also in Belgium, I recorded his works for solo piano. These integrate the second segment. From 1978, when I started my research into Oswald’s work, to this date large steps have been taken towards the promotion of his work, now on rise in Brazil and abroad.