Seguir a Observar nosso Entorno

A grande diferença entre o inteligente e o estúpido
- entre o chamado inteligente e o chamado estúpido –
é que o primeiro se esforça.

Como nada entenderam do passado,
nada podem sonhar para o futuro.
Agostinho da Silva

A impressão parece ser a de um acelerar, à medida que a idade segue sua trajetória. Estou a me lembrar de que na infância-adolescência o fim do ano demorava uma eternidade para chegar. A inexorabilidade do tempus finitus nos faz sentir mais próximos de nossos destinos finais.

Alguns aspectos mereceriam considerações nesse ano que ora finda. Este post, longe de ser temático, capta algumas impressões assimiladas ao longo do ano de 2013. Não poderia deixar de me posicionar frente ao que estamos a viver em nosso país e na cidade como um todo. É triste constatar a deterioração evidente dos costumes e da desacreditada e nefasta grande maioria de nossa classe política. Raro o dia em que um escândalo a envolver algum personagem político não vem a público, majoritariamente sobre corrupção. Corruptos por vezes são denunciados, corruptores permanecem quase sempre impunes. Aos esclarecidos é motivo de desalento e tristeza; aos beneficiários de bolsas, cotas e demais benesses do governo, esses fatos nocivos não têm a menor influência na hora do voto. O partido planaltino não tem a mínima oposição dessa gigantesca legião de adeptos, mercê desses favorecimentos. Sob outro aspecto, o léxico brasileiro conhecido no Exterior tem uma palavra que se junta a outras bem ventiladas, como samba, Corcovado, Copacabana, Bahia, Pelé, Amazonas… Trata-se de mensalão. Sabem pronunciá-la razoavelmente bem e conhecem os porquês, dois os três personagens principais e a extensão do significado.

A Prefeitura tem no alcaide de plantão figura que, já no Ministério da Educação, foi alvo de críticas fundadas, graças aos episódios sobre os exames do ENEM e a publicação de livros que continham erros essenciais. Ao contribuinte ficou a incumbência de cobrir, com seus impostos, tributos e taxas elevadas, os erros devidos à “desatenção”. À testa da maior cidade da América do Sul, o ex-ministro está a cometer equívocos que igualmente não enaltecem sua figura. O aumento do IPTU algumas vezes acima da inflação gerou protestos generalizados, e a cobrança do imposto predial urbano encontra-se suspensa pelo Judiciário até que o Tribunal de Justiça Paulista aprecie o mérito. O “silêncio” frente à progressiva invasão dos “sem teto” na imensa urbe é outro exemplo de gestão complicada. Neste item, algumas dessas “apropriações” mereceriam destaque. O vão do MASP, o mais importante museu do cone sul americano, tem sido invadido sistematicamente por sem teto; a Praça Cedro do Líbano, em plena Avenida Brasil, abriga algumas tendas de moradores de rua, assim como a Acibe Ballan Camasmie e a perigosa esquina da rua Ribeiro do Vale com a Av. Bandeirantes, no Brooklin. O centro da cidade exibe calçadas a abrigar quantidade expressiva de moradores de rua. Esse é o clima que parece estar a imperar na atual gestão, não enfrentar problemas que possam acarretar algum tipo especial de desgaste junto a determinadas camadas sociais. O atual burgomestre, não tomando qualquer medida para solucionar essa silenciosa e constante invasão, corre o risco de ser personagem similar a “L’Apprenti Sorcier” (O aprendiz de feiticeiro) composição de Paul Dukas (1865-1935), baseado em conto de Goethe e popularizado através do filme Fantasia (1940), de Walt Disney, em que Mickey Mouse é o astro a representar o aprendiz. Ainda há tempo para que essa invasão seja contida. Haveria vontade política?

Lamentável o que ocorreu na Universidade de São Paulo, que tende a despencar em próximas avaliações internacionais. O Jornal da USP apresenta, em sua edição de 2 a 8 de Dezembro de 2013, cenas da maior barbárie. Bandidos travestidos de alunos, semelhantes aos bandidos igualmente travestidos de torcedores que infestam estádios, destruíram a Reitoria. Uma total falta de autoridade por parte da cúpula da universidade e do Estado. E só de pensar que o delinquente que está com uma marreta em uma das ilustrações deste post deveria ser um dos celerados que pleiteava votação direta para Reitor e outras mais reivindicações!!! Foram presos, haverá sanção aos invasores delinquentes “uspianos” fácilmente reconhecíveis através de inúmeras fotos, serão expulsos da universidade? Neste caso, é o mínimo que se pode pensar antes de uma ação penal rigorosa. Contudo, nada acontecerá e outras greves e destruições ainda maiores poderão ocorrer. E de pensar que esses bandidos que quebraram o que havia dentro da Reitoria, saqueando-a e lá permanecendo durante mais de um mês, um dia estarão a ocupar postos prováveis de importância!

Vergonhoso o estender do tapetão no julgamento de minha desafortunada Portuguesa de Desportos. Neste país, os poderosos sempre obtêm privilégios, ou através de renomados advogados ou pela posição econômico-social influente. Triste constatar que o Fluminense tem farta tradição nessas viradas de mesa em tribunais esportivos instalados na engrenagem da CBF no Rio de Janeiro. Comentaristas afirmaram que, durante o campeonato de 2013 da série A, a Portuguesa foi prejudicada em vários jogos, mercê das arbitragens. Hoje relegada à pequena torcida, mas a merecer continuar na série A graças ao desempenho no campo de futebol, está a dar lugar ao Fluminense em decisão estranhíssima de tribunal esportivo no… Rio de Janeiro, sede do time carioca. A Portuguesa de Desportos tem o dever moral de entrar na Justiça Comum. Não há outra saída. Certamente tomará tal atitude. O mundo esportivo além- fronteiras precisa conhecer o que ocorre no futebol brasileiro. Qual a razão para que não haja concurso público para a composição dos tribunais esportivos?  Meu querido irmão e ilustre advogado Ives Gandra, em entrevista concedida ao programa de Milton Neves na Rádio Bandeirantes, pronunciou-se a respeito dessa concentração de poderes do STJD (Superior Tribunal de Justiça Esportiva) no Rio de Janeiro… em mãos de um feudo: “Temos um tribunal como feudo de uma família, os Zveiters dominam o STJD. O atual presidente (Flávio Zveiter) foi considerado um grande jurista já no terceiro ano de faculdade para ingressar no STJD. Nem o Miguel Reale no terceiro ano de faculdade era considerado um grande jurista.” (band.com.br ; 16 de Dezembro, 17:03). Sem mais comentários!!! Ao fim do julgamento com cartas marcadas, enquanto, com razões de sobra, torcedores da Portuguesa choravam, após luta árdua dentro do campo para se manter na série A, outros do Fluminense, de maneira constrangedora, insensata e melancólica, saudavam com euforia o “Tricampeonato” obtido no tapetão e não no gramado. Especialistas na matéria, dirigentes do Fluminense já têm a tradição de nefasta façanha e saberão valer-se da artimanha sempre que se fizer necessário.

Se quase nada temos a comemorar em nosso país sob o aspecto ético e moral, se o crescimento do Brasil foi pífio, se a Petrobrás – outrora uma das grande empresas mundiais – claudica, após gestões complexas nesses últimos 12 anos, se os corredores dos hospitais públicos mostram vergonhosas imagens que ratificam o descaso, graças à desídia administrativa, se anualmente dezenas de milhares de brasileiros sucumbem nas estradas ou em assassinatos brutais, há que se considerar que o povo saiu às ruas a clamar reivindicações básicas e moralidade política. As imagens de milhões de brasileiros ocupando avenidas e praças em Julho correram o mundo. Esse imenso povo ainda não foi atendido em seus pedidos essenciais.  Tudo está a tender ao esquecimento. Até quando?

A visita de Sua Santidade Papa Francisco foi o mais belo exemplo de fé, congraçamento, integração, despojamento. Milhões de jovens vindos de tantos países para a JMJ participaram durante uma semana inteira dos encontros com o Papa no Rio de Janeiro e na Basílica de Aparecida. A não se esquecer jamais aqueles momentos. Sob o plano individual, tristeza ao perder minha sogra, a ilustre professora Olga Normanha e o diletíssimo amigo, o pintor Luca Vitali. As alegrias vieram do amoroso convívio familiar e dos poucos e fiéis amigos; das leituras de tantos universos contidos nos livros percorridos; dos posts semanais; da Música, minha companheira desde a infância; das corridas de rua, que já somam 73 em cinco anos. Após um lustro participando ininterruptamente da Corrida de São Silvestre, não mais correrei a prova, mercê da irresponsabilidade da organização em manter a perigosa descida da Major Natanael neste próximo dia 31, causadora na edição passada da morte de um cadeirante. Israel Cruz Jackson de Barros não conseguiu fazer a curva no final da rua, a cadeira de rodas virou e o atleta amador bateria a cabeça no muro do complexo do Estádio do Pacaembu. Um desrespeito à comunidade esportiva a manutenção do percurso para este fim de ano. Quando interesses estão em jogo…

Enquanto o sopro existir continuarei a manter os posts semanais e a estreita relação com os leitores. São eles que me dão o estímulo para prosseguir. A todos, os meus votos profundos de um 2014 mais esperançoso.

It’s New Year again but I don’t see much to celebrate. All I see is the defeat of Christian morals, corruption, the streets of my city invaded by homeless people and panhandlers and authorities not dealing with the problem, the building of the Rectorate of USP (University of São Paulo) destroyed by revolted students whose acts remained unpunished, my football team relegated to the 2nd division of our national league thanks to a dirty trick played by directors of Fluminense, one of the most widely supported football teams in Brazil – and thus a guarantee of sold-out stadiums. What remains to be celebrated are family, friends, my music, my books, my blog and always the hope for a new beginning.