A Lusa Atenas
A Universidade portuguesa foi criada por D. Diniz em 1290 e, após circular entre Lisboa e Coimbra, instala-se definitivamente nesta cidade em 1537. Não por acaso. Os romanos edificaram o pretorium nessa região; durante a ocupação árabe houve a decisão da construção de Alcáçova, cuja planificação geométrica assemelha-se à presente configuração do Páteo da Universidade.
A tradição da Universidade de Coimbra é um dos orgulhos do conimbricense. No Paço das Escolas, conhecido igualmente por Páteo da Universidade, encontram-se a Biblioteca Joanina, a Capela de São Miguel, a Torre, a Via Latina, a Porta Férrea e o antigo Colégio de São Pedro, todos em perfeita harmonia arquitetônica. A Biblioteca Joanina, dos tempos de D. João V, é um dos monumentos universais do século XVIII e, em suas três salas amplas em cores tênues e diferenciadas, todo o esplendor do período pode ser observado. Abriga coleções preciosíssimas.
Saindo-se da Universidade, Coimbra expõe alguns dos monumentos importantes da cultura portuguesa: a Sé Velha, a Igreja e o Mosteiro de Santa Cruz, a Sé Nova, o Arco de Almedina e tantos outros. Destaque às estreitas ruas medievais, que descem das colinas e se contorcem na Baixa . Conferindo um toque amoroso a todo o contexto, o Mondego, esse belo rio que, com os seus contornos, é amplamente visto do alto da cidade.
Pela quarta vez visito Coimbra. Em 2004, comemorava-se o tricentenário do ilustre compositor coimbrão Carlos Seixas (1704-1742) e apresentei, durante o Colóquio Carlos Seixas, um recital de piano inteiramente dedicado ao grande músico na Biblioteca Joanina. Nesses outros três anos, alternei as apresentações entre a famosa Biblioteca e o Teatro Acadêmico de Gil Vicente, pertencente à Universidade, onde se realizam séries importantes, a estimular a atividade artística da cidade.
Em um dos recitais na Biblioteca Joanina, à noite, ao apresentar as duas Légendes de Franz Liszt, no momento em que interpretava São Francisco de Assis falando aos pássaros, num dos segmentos plenos de trinados a lembrarem os gorjeios dos passarinhos, um rouxinol próximo ao teto da Biblioteca começou a cantar em alto som, provocando surpresa tanto para o público como para o intérprete. Disseram-me que jamais tal fato ocorrera. Magia da Joanina.
O recital presente, na moderna sala do Teatro Acadêmico Gil Vicente, com os comentários e o data-show feitos pelo competente Professor da Universidade de Coimbra, José Maria Pedrosa Cardoso, deu-se durante a semana de Maio, quando os estudantes festejam a Queima das Fitas, a comemorar a proximidade do final do ano letivo. Durante uma semana, vestidos com suas capas pretas, bebem a fartar-se cerveja e vinho, o que resulta em muitas ambulâncias circulando entre os locais festivos e os postos de atendimento. É uma tradição.
Sob outro contexto, Coimbra está inteiramente ligada à história do conhecimento no Brasil. Quantas não foram as gerações de brasileiros que estudaram em Coimbra desde o nosso início? Parte de nossa fundamentação jurídica hoje existente deve-se à sabedoria dos mestres conimbricenses. Igualmente em outras áreas humanísticas, assim como na medicina. O que se torna evidente é o respeito que as novas gerações acadêmicas têm em Coimbra pelos professores que, durante décadas, semearam e semeiam entre os estudantes o caminho do conhecimento. E isso é acúmulo. É dessa somatória que surgirão novas doutrinas, embasadas na tradição, e o conhecimento apenas tomará um dimensionamento maior. Coimbra é realmente única.
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