Cidade Plena de Mistérios
…a cidade de Évora hipnotiza ainda hoje de forma intensa todos e cada um, graças à existência duma velada força magnética, espiritual, praticamente indecifrável.
Joaquim Palminha Silva
Essa antiga cidade, por vezes milenar, tem origens singulares. Uns poucos quilômetros a distanciam do Cromeleque dos Almendres, monumento megalítico formado por menires e que deve datar do VI milênio a.C. O vasto descortino que se tem do Cromeleque possibilita, de certo ângulo, que sejam vislumbradas as cercanias da cidade. O porquê da colocação estratégica de dezenas de menires continua um mistério, como em Stonehenge, na Inglaterra. Determinadas coordenadas a fixarem o deslocamento da luz solar, outro mistério, comum às duas formações. Aliás, no Alentejo são inúmeros os menires, sendo o Cromeleque dos Almendres o mais importante.
Os Romanos estiveram em Évora e edificaram, no século III, o Templo Romano de Évora, mais conhecido como Templo de Diana, apesar de não se saber ao certo a que divindade foi dedicado. Hoje em ruínas, tem suas colunas preservadas, a manter uma imponência ímpar.
O centro histórico de Évora é rodeado por altas muralhas, herança da Idade Média, quando protegiam cidades de ataques inimigos.
Évora abriga algumas das mais belas igrejas de Portugal, muitas outrora conventos. Ermidas também existem, a destacar esse outro contexto relevante da cidade. De uma primeira Sé do século XII nada restou. A Sé Catedral posterior foi sagrada em 1308 pelo bispo D. Fernando Martins. Intervenções foram feitas ao longo do tempo, propiciando à magnífica Catedral eborense o conceito merecido de ser um dos belos monumentos portugueses. Mencionemos algumas das igrejas, muitas delas do século XVI, que apresentam diferentes feituras quanto à construção: Carmo, Espírito Santo, Graças, Lóios, Mercês, S. Jesus da Pobreza, Salvador, S. Tiago, Santa Clara, Santo Antão, São Francisco e sua visitada Capela dos Ossos. São algumas entre tantas, autêntica enciclopédia histórico-religiosa.
O recital deu-se no Convento dos Remédios, erigido no século XVI. Hoje a Igreja, desativada para o culto religioso, está a servir como local de extraordinário cenário para concertos corais e camerísticos, assim como para recitais. As apresentações, organizadas pelo Eborae Musica, estabelecem esse convívio do Templo com os sons. A igreja tem uma nave de quatro trames. Nesse corpo, retábulos em madeira dourada protegem uma bela imaginária. A magnífica talha do altar-mor, a abrigar Nossa Senhora dos Remédios e um crucifixo expressivo, oferece o ambiente perfeito. Captada pelo intérprete, parte da aura emanada do local torna-se fonte maior de inspiração. Como resistir a essa magia? Integrando-se a ela, na busca possível das mais apuradas sonoridades, pois o Convento dos Remédios tem uma acústica invejável.
De regresso a Lisboa, observamos ainda o Centro Histórico, suas Igrejas. Ao deixar a proteção das muralhas, percorremos a cidade que foi construída extramuros e chegamos à planura alentejana. Sobreiros, azinheiras, chaparros, oliveiras espalham-se pelas terras onde, rasteiras, flores em amarelo ou lilás transformam todo o cenário em poesia. Évora é uma cidade singular. Magia, misticismo, mistérios…