E la Nave Va

Há, estou disso certo, muito aborrecimento,
muita dor e muita felicidade guardados para cada um de nós;
e cada um de nós fará uso de tais cousas,
emocional e intelectualmente
em acordo exato com o seu estágio de desenvolvimento.
J. Krishnamurti

Houve coincidência. Os cinco anos de posts ininterruptos publicados no blog todas as madrugadas de sábado foram seguidos pela estatística. Chegamos aos 200.000 acessos mercê da fidelidade de leitores que têm divulgado seletivamente diria, o endereço eletrônico de meus escritos.

Chegar a essa numeração leva-me à reflexão. Se menciono a palavra que faz entender ser meu blog fruto dos acervos, não quero passar a ideia de que haja elitismo nessa consideração. Apenas posiciono-me no sentido real, ou seja, há espaços para “N” categorias de leitores em quantidade incalculável de blogs, muitos deles atingindo marcas estatísticas estratosféricas. Trata-se de constatação. Os autores de blogs com caráter noticioso,  político, esportivo, policial, de moda, de novidades efêmeras podem  ver estatísticas que ultrapassam largamente, todos os dias, os meus 200.000, homeopaticamente construídos. Os números estão aí para evitar interpretações dúbias ou dimensionamento irreal. Portanto, para o que me proponho, nessa necessidade de transmitir o que vejo, leio, interpreto, ouço,  a quantidade atingida não deixa de me causar alegria. Essa, constato-a em e-mails sensíveis que recebo. Sentir que leitores captam mensagens que saem de minha mente sem outra pretensão a não ser transmitir observações as mais diversas, já não basta para que continuemos? Se cinco anos não tiveram sequer uma semana de interrupção é que ainda estou a me surpreender, em todos os sentidos, com esse mundo em transformação acelerada sem trégua.

Raramente olho o contador. Ele lá está a aferir a visita dos leitores. Houve meses em que ele funcionou tão lentamente, após queda abrupta, que não me importei por saber que o repentino decréscimo deveria ser derivado de problemas técnicos. O que parece evidente é a serena progressão aritmética, a evidenciar que outros leitores passaram a frequentar as minhas linhas semanais.

Estava a conversar há dias com o caríssimo amigo Betho Jesus, excelente engenheiro de áudio, poeta e pensador original. Dizia-me ele, a ratificar o que tenho observado sob outra égide em meus posts, que mais acentuadamente a diferença entre o mercado da música erudita e da pop música se acentua,  captando estas frequências a cada momento mais numerosas. Observou que  processo curioso se produz, pois tantos e mais jovens lá estão nos megashows a filmar seus ídolos através dessas “engenhocas” híbridas que tudo armazenam num ínfimo espaço. Ou seja, a preocupação desse jovem é registrar para a mostra posterior aos membros de sua tribo. O que ele, como “ouvinte”, apreendeu da parafernália sonora? Basicamente nada, pois seu interesse era outro. Mutatis mutandi, diria que fenômeno semelhante é revelado nos blogs. Chegar a 200.000 acessos em cinco anos é expressivo para determinada categoria de leitores, mas rigorosamente infinitesimal se comparado aos blogs já mencionados. O mesmo se processa no YouTube. Intérpretes eruditos fabulosos, mormente do passado, têm poucos milhares de acessos após anos de exposição no YouTube. O aparecimento meteórico de cantor (a) pop pode propiciar em poucos dias milhões de acessos. São universos distintos, mas que merecem reflexão. Um só CD “meteórico” pode vender mais do que a produção de décadas de CDs eruditos de um país!!! Uma notícia “bomba” em blog de repercussão pode representar muitos milhões de acessos em apenas um dia. Preocupação? Diria constatação sem retorno, mutações da sociedade já mencionadas.

A estatística me dá a alegria que corrobora o continuar. Não é a única razão, pois acredito que, hoje, seguiria a escrever, mesmo que esse prazer fosse recôndito, apenas o externar o que sinto em solilóquio. Todavia, satisfação maior é saber que a mensagem semanal tem guarida e as respostas ao blog, sempre inteligentes, proporcionam aquilo que D. Henrique Golland Trindade denominava “o santo orgulho”. Prossigamos pois a caminhada.

Last week my blog reached 200.000 visitors, leading me to reflect on the pleasure of posting an entry every week – a way to ponder upon life -, on how proud I am for garning such an extensive following without any advertising – thanks in part to positive word-of-mouth from readers –, and also on the growing gap between pop and classical music, particularly now in the age of video-sharing websites, when the internet provides an international audience to which anyone can promote oneself. A new pop star may experience a meteoric rise to fame and get millions of hits from users worldwide in a few days, while videos of outstanding interpreters of classical music of the past have a few thousand accesses after years on the web.