Estilos que Perduram ao Longo da História

 

C’est que les études musicales sont de loin les plus stérelisantes.
D’une part elles canalisent les facultés intellectuelles
dans les jeux abstraits d’une complication toute gratuite.
André Souris

Conheci Mariana no final da década de 1960. Estudava piano com professora de mérito. Mostrava afinco e sonhava ir bem longe. Casamento, filhos e outra atividade, não ligada à música, dissuadiram-na de enfrentar a disciplina rígida que se faz necessária quando o caminho do intérprete torna-se mais claro. Contudo, ainda tem grande prazer ao ouvir música erudita ou clássica, que “integra todo meu passado musical interrompido nos anos 70″.

O encontro foi casual no Natural da Terra perto de casa. Como sempre faço depois desses acasos, convidei Mariana para um café. Estivemos um bom tempo a conversar, eu a querer saber o porquê do distanciamento da prática pianística, ela a mostrar-me as razões pertinentes. Se acredito que motivos vários corroboram tomadas de decisões, por vezes radicais, não deixo de crer que uma razão primordial possa provocar o desencadeamento de outras decisões secundárias, que levam fatalmente à desistência.

Disse-me Mariana que certa vez foi assistir a um curso de interpretação pianística ministrado por professora do Exterior. Compareceu às aulas, sem contudo se habilitar a tocar frente à mestra renomada. Geralmente esses cursos, também denominados master classes, tem como frequentadores ouvintes,  alunos, intérpretes e alguns outros professores. Pois bem, após a apresentação de um jovem talento, a professora, que não era pianista, foi de uma severidade absoluta, chegando, segundo Mariana, ao limite da indelicadeza. Finda a aula, Mariana, que era amiga do desacatado pianista, que, aliás, conseguiu futuramente singrar um bom caminho musical, conversou com o jovem. Asseverou-me que durante semanas seu amigo mostrou-se arrasado, só retornando aos estudos após longa preparação psicológica.

Um fato pareceria evidente. Nesses cursos, ou o professor tem a diplomacia a complementar a competência, ou apresenta sintomas de autoritarismo voluntário, a fazer ver ao jovem que existe uma diferença entre magister e aluno e, por que não, “forçaria” essa competência. Inferiorizado, e até “aterrorizado”, o que sofre esses virulentos ataques mal pode expor pianisticamente suas ideias. Se o professor for pianista, a interpretação que entende a melhor é transmitida geralmente a contento, e essa explicação deveria, in conditio sine qua nom, ser colocada de maneira a não ferir a dignidade do aluno. O professor não pianista deve ter ainda maiores cuidados, pois a transmissão passa a ser apenas oral, o que poderia  pressupor uma abordagem “sonora” unicamente através das mãos do aluno que teria captado a mensagem.

O que me chamou atenção foi ter encontrado o fulcro da desistência precoce, pois a partir desse episódio Mariana não mais teve entusiasmo e os fatos mencionados no início do post fizeram-na desistir.

Estou a me lembrar de passagem que li no sensível livro da musicista Amy Fay (1844-1928), Music Study in Germany, no qual, entre as muitas considerações a respeito dos renomados professores com quem estudou, a pianista e professora norte-americana relata o tratamento dispensado por Karl Tausig  (1841-1871) aos seus melhores e menos dotados alunos. Grande pianista, falecido precocemente de febre tifóide, Tausig tinha lá suas preferências e  evidenciava-as claramente. Com aqueles que não se apresentavam a contento, ou por falta de maior talento ou até certo despreparo, Tausig era inclemente. Amy Fay menciona um aluno que, após esse massacre verbal, suicidou-se na solidão de seu quarto.

Recordo-me dos cursos que frequentei em Paris. Estudava com Marguerite Long regularmente em seu apartamento, no 16 da Avenue de la Grande Armée, e me apresentei muitas vezes em seus cursos públicos. Durante alguns meses tive aulas com um assistente por ela indicado, o excelente pianista e professor Jacques Février. Contudo, sua instabilidade emocional em classe era bem acentuada e não poucas vezes o vi proferir palavras desairosas a pianistas ótimos que se apresentavam. Um deles, que desenvolveria no futuro sólida carreira, ouviu do mestre um xingamento que se estendeu aos seus ascendentes. Foi após esse episódio que solicitei à Mme Long um outro assistente. Tive então a ventura de estudar com um dos maiores pianistas e professores que conheci, Jean Doyen. Unia à grande competência musical a relação familiar impecável que mantinha com mulher e filha. Um artista equilibrado, que transmitia segurança e tranquilidade àqueles que com ele estudaram.

Ao final de nosso encontro, Mariana, um tanto nostálgica, observou que aquele famigerado curso, causador de sua futura desistência, não foi seguido de um aconselhamento no sentido de mostrar-lhe que o episódio deveria ser esquecido. Infelizmente, todo o mal ficou na maturação solitária de um vão autoritarismo. Pergunta-se, quantos casos não têm a mesma trajetória? Sabe-se que há concorrentes de concursos de interpretação que realizam promissoras carreiras temporárias devido às premiações, mas após são esquecidos, pois novos valores surgem. Sabe-se também que alguns chegaram ao suicídio depois do convívio com o ostracismo. Encontrar o equilíbrio, eis a fórmula que todos buscam. Uns o conseguem, outros podem sucumbir. O que é certo é que a Música pode proporcionar o melhor para o mundo interior e o pior para a mente não preparada. As circunstâncias determinarão as devidas posturas. 

Talking to a friend, she confessed one of the reasons she gave up studying music was an episode she had witnessed in which an acclaimed teacher humiliated a boy during a master class. This post is about the traits a good music teacher should not have: impatience, roughness, arrogance. Teachers who are capable of patience, kindness, respect for the differences and meaningful criticism encourage pupils’ to learn from their mistakes, exploit their full potential, gain confidence to perform and to go ahead.