Observar, Apenas Observar

Dada a situação no mundo de hoje,
talvez sejam outros os caminhos e haja,
antes dela, uma apocalíptica Idade.
O que é importante é que nunca percamos nem a fé nem a esperança
e que se comporte cada um de nós,
dentro do possível e sobretudo do impossível,
como desejamos se comportem os homens
do mais longínquo futuro que possamos imaginar no mundo.
Agostinho da Silva (Dispersos, pág. 757)

Que parte considerável da população esclarecida está atenta ao que ocorre no país é fato notório. Palavras oficiais são utilizadas para vilipendiar os mais esclarecidos, atentos ao que está a ocorrer. Nesses últimos meses termos desgastados graças ao caminhar da história, como burguês e elite, têm sido permanentemente empregados pela denominada Situação. Mais recentemente, Casa Grande, a contrastar com Senzala, foi pronunciado pelo alcaide de São Paulo.  Desde as manifestações de Junho de 2013, reivindicações legítimas foram olvidadas pelos Poderes Executivo e Legislativo. Isso também é fato.

Há algum tempo tento evitar temáticas indigestas que afligem parte considerável da população que busca apreender situações esdrúxulas através do cotidiano. Diria que uma surda angústia está em ebulição entre tantos personagens de diversas “classes sociais”. Aliás, como a Situação adora essas palavras de ordem!

Mario Vargas Llosa escreve sobre a deterioração da Cultura, dos Costumes, da Ética, da Política e da Sociedade. Um exemplo da degradação viu-se durante o Carnaval deste ano, a evidenciar bem a ruptura das últimas barreiras da moralidade. O Governo distribuiu aproximadamente 100.000.000 de preservativos e a resposta imediata veio através de imagens impensáveis décadas atrás. Provedores da internet mostraram mulheres seminuas nos desfiles das Escolas, exibindo largos sorrisos e seios vitaminados através de próteses e silicone, comprimindo-os ao máximo, verdadeiramente ofertando-os. Cenas grotescas que, sob outro ângulo, poderiam provocar a procura pelos preservativos distribuídos regiamente pelo Planalto. Em Salvador, multidões absurdas acompanhando os trios elétricos, que apresentavam “música” de baixíssima qualidade, verdadeira aberração aos ouvidos. Uma dessas, “lepo lepo”, paupérrima, foi vociferada pela massa amorfa que, à maneira da juventude nazista, erguia braços e pulava, incitando ainda mais os “cantores” dos trios, que corriam de um lado para outro desses veículos eletrificados conclamando a turba. O mais grave, durante dias, o que vem a demonstrar a alienação completa de dezenas de milhares presentes. Há muito o Carnaval deixou de ter a conotação de festa legítima. Blocos que  desfilam nas cidades brasileiras de quaisquer dimensões ainda preservam resquícios de uma aura que se esvaiu. Igualmente, algumas escolas de samba têm o sentido, quase perdido, da tradição.

Desde as manifestações de Junho recrudesceu em  aceleração crescente o namoro do Planalto com o regime de Cuba. A presidente, durante as referidas manifestações, anunciava com pompa a contratação de milhares de médicos do Caribe para o programa populista Mais Médicos. Comprovou-se que o contrato trabalhista com aqueles profissionais tem problemas sérios. A mídia, estranhamente, não está a dar a exata medida da situação, que na realidade fere princípios de nossa legislação. Sempre fica na penumbra a relação de considerável parte da mídia com o Governo Federal. As verbas governamentais para a propaganda são imensas. Isso poderia explicar parte do silêncio. Vimos ultimamente fatos preocupantes. A presidente, ao visitar Cuba para a inauguração do Porto de Mariel, com 80% do custo financiado pelo BNDES, ou seja, dinheiro do contribuinte, anunciava que outro empréstimo já estaria em cogitação (Jornal da Globo online, atualizado aos 28/01/2014 à 01:56). Enquanto isso, rodovias e  portos brasileiros pedem socorro. Ferrovias? O sonho de Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), barão e visconde com grandeza de Mauá, perdeu-se, talvez para sempre. Sabemos que sem malha ferroviária, ao menos razoável, o Brasil continuará um país caríssimo para as exportações e a distribuição  impedindo o verdadeiro crescimento. Em Fevereiro último, a visita do ex-presidente a Cuba, a fim de visitar os irmãos Castro da famigerada ditadura cubana, serviu para novos acordos e novas ajudas. O que sempre chama a atenção, mas está a ser esquecido pela população, é o fato de Cuba ser a mais cruenta ditadura da América Latina, em termos históricos. Instaurada em 1959, sacrificou numerosíssimos opositores, que perderam a vida nos abomináveis paredóns, mantendo ainda número desconhecido deles em prisões. “Democracia” que não permite o direito fundamental do cidadão de poder transpor livremente as fronteiras. Em 1962, em Moscou, ouvi músicos que adorariam viajar para o Ocidente, assim como ouvi em Berlim Oriental, poucos meses antes da queda do muro, berlinenses a beirarem os 50 anos lamentar a falta da liberdade essencial, pois sonhavam diuturnamente com Berlim Ocidental. O muro da vergonha e da morte, a impossibilitar saídas. Quantos não perderam a vida na ânsia de liberdade? São, pois, preocupantes esses laços que se estreitam tão acentuadamente entre o Planalto e os ditadores de Cuba. Até onde eles se estenderão? Quais os reais propósitos? Não há clareza alguma por parte da presidente em seus pronunciamentos a respeito. Da nossa triste América Latina, Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina são exaltados pela atual mandatária e pelo ex-presidente, assim como pela cúpula do partido planaltino. O Mercado Comum do Sul (Mercosul) está longe de atender a propósitos plausíveis. Enquanto o Brasil corteja ditaduras e governos extremados, perdemos a oportunidade, por razões ideológicas, de uma aproximação maior com a Comunidade Europeia, com a América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá), Extremo Oriente não comunista. “Diga-me com quem andas… “. Se a China continua a ser grande importadora, contudo o Brasil está a perder muito com a não aproximação mais firme com países que mereceriam maior atenção. A ideologia é, na verdade, um grande entrave. Diria, insuperável.

Mais de uma vez salientei que a escolha de um Ministro para ocupar assento na Suprema Corte deveria ser feita por Comissão de Notáveis. Sabemos que assim não reza a legislação pertinente. Contudo, se a Situação permanecer mais tempo, certamente teremos todo o STF indicado pela (o) presidente. Isso é fato. Incertezas futuras para com o equilíbrio da balança, instrumento símbolo da Justiça.

A Copa do Mundo de Futebol se aproxima. Estádios superfaturados, entornos inacabados. A FIFA precisaria, para total segurança, de ao menos 90 dias para a instalação de toda a parafernália relativa às Comunicações. O Secretário-Geral da Federação Internacional de Futebol, Jerôme Valcke, que foi tão contraditório por vezes, afirmou há dias que a Copa do Brasil poderá ser a pior da História da Organização. Tudo está a concorrer. O legado deverá ser penoso. Foram muitos os eufóricos pronunciamentos oficiais poucos anos atrás sobre a Copa. Prolongaram-se. Desmentidos pela realidade, mas infelizmente, por absoluto desconhecimento, mercê do despreparo, aceitos por milhões de beneficiários da demagógica Bolsa Família. Repetiu-se a realidade das promessas do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, permanentemente sob… promessas. Se, de um lado, os mencionados beneficiários de vários tipos de bolsas e cotas não se preocupam, desde que recebam seu quinhão, o mesmo não deverá acontecer com a Economia do país, em situação bem delicada. Todos somos afetados. Especialistas independentes têm alertado. O Planalto estará com ouvidos abertos às ponderadas assertivas? Ano de eleições…

Enquanto diariamente cidadãos são assaltados e assassinados por legião de menores, aqueles ligados ao Planalto permaneceram insensíveis ao clamor da população, que majoritariamente tem “implorado” pela diminuição penal.  O Brasil está absolutamente na contramão do que ocorre em países que entendem que crimes hediondos não estão sujeitos à idade, seja ela qual for. Dos mais de 50.000 assassinatos ou latrocínios ocorridos no país (recorde absoluto em termos mundiais), parte considerável dessas tragédias acontece nas grandes cidades e praticada por menores. O que dizer? É preciso pensar sobre o assunto de maneira realista. Em ano de eleições o Governo Central evita o debate franco com a Sociedade.

À mídia compete divulgar verdades. Estará disposta a fazê-lo, indo ao âmago de escândalos que pululam regularmente? Como exemplo, a queda vertiginosa da Petrobrás, no início do século XXI uma das dez mais importantes do mundo, e hoje relegada à ínfima posição acima da centena, evidencia bem os passos equivocados nesta última década. Infelizes acionistas. Não há derrocada abissal sem causas reais. Por que não divulgá-las? O Planalto exalta o pré-sal. Hipotético, pouco sabemos a respeito de viabilidades. E os gravíssimos problemas da Petrobrás que estão à tona? Silêncio do ex-presidente e da atual mandatária. A Petrobrás, orgulho do brasileiro até bem recentemente é motivo de chacota. Isso igualmente é fato.

O General Charles de Gaulle teria razão? Seriedade vem do combate intransigente a fatores crônicos como a corrupção e o despreparo. Aguardemos.

This post is about my disenchantment with my country in all aspects: cultural deterioration, political corruption, the government’s flirting with dictatorships, violence, morality decline leading to spiritual barbarism.