Não podemos esmorecer
Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Castro Alves (1847-1871)
Não poderia ser diferente. Sem exceção, leitores concordam que a não obrigatoriedade do estudo da língua portuguesa através de seus autores luminares resultará num empobrecimento sensível à nossa cultura, já em fase agônica em tantas esferas. Soma-se a todo o processo a fala errada e o escrito mal redigido, daí resultando o declínio mais acelerado. Nenhuma palavra do governo. O ministro da Educação não vem a público para dizer que preservaremos a cultura que nos foi legada pelo grandes autores. A presidente silencia, o que não é surpresa quando o tema envolve o saber. Some-se sua “capacidade” de, ao se expressar de improviso, basicamente ser ininteligível.
Continuarei a insistir. A decadência que está a se acentuar na expressão oral ou escrita já está atingindo frontalmente os provedores de internet e até jornais e revistas bem conhecidos. Difícil a leitura de uma notícia mais longa sem que haja várias incorreções ortográficas, de sintaxe e de elaboração do pensamento. Essa pasteurização do equívoco leva à contaminação generalizada. Se não nos batermos, logo mais estaremos ainda mais ridicularizados pelos cultores da língua mãe no território lusitano. O capitis diminutio está à mostra. Estou a me lembrar de que, no final da década de 1980, encontrei-me em reunião social com o responsável pela revisão final do Jornal da Tarde. Dizia-me ele que tinha pesadelos se encontrasse erro ortográfico na edição já à disposição dos leitores, ou seja, a mínima gralha!!! Outros tempos!!!
François Servenière, como sempre, alonga-se nos comentários e nunca se atém a um só propósito. O compositor e pensador francês envia-nos mensagem bem significativa. Ei-la:
“Você tem razão de combater, como nós o fazemos em França, movidos pelos mesmos motivos, pela língua e pelas origens greco-latinas. Você bem sabe que as decorrências ideológicas existem, hoje virulentas, contra a cultura ocidental. Seria mais transparente ver no exagero de suas manobras o crepúsculo de ideias, como um último gesto de humor. Essas ideologias sectárias foram condenadas pelos valores do início do século XX. Na atualidade, tendências do pensamento tendem a apontar, à maneira de um prélude, para a refundação da humanidade, uma nova era. Vale concluir que a presença dessas ideologias estanques mostra-se naturalmente indesejável nos locais de renascimento e de renovação. Excluídas, elas se apresentam super violentas e perversas para com o aperfeiçoamento, que tende a avançar como rolo compressor, impossível de ser barrado, como a história em marcha. Todas as tentativas de retorno generalizado às ideologias ainda presentes em tantos cantos do planeta não são mais do que algo fora de contexto ou ultrapassado, démodé. Para os cultores, parece que o fim se aproxima. Roussef e Lula, como Hollande, colocam os últimos crisântemos nos túmulos de suas carreiras, de suas ideias. Não que lhes falte inteligência, pois poderão manter-se ainda no poder através das manipulação das instituições. Todavia, fizeram más escolhas para o futuro de seus países, olhando o futuro pelo retrovisor, e suas apostas mostraram-se o retrocesso em nome de um ‘progressismo’, termo que eu demonstro em meu livro ‘Bien Faire et Laisser Blaire’, expondo a proposição de uma ideologia que jamais entendeu o progresso. Razão pela qual ideólogos tanto proclamam esse caminho! Exatamente como aqueles que falam tanto de sexo pelo fato de serem frustrados.
Retornando à língua falada, a expressão popular veiculada pelas mídias e pelas séries televisivas não transmite o bem falar, nem conteúdo intelectual. Não é nem o propósito, tampouco a finalidade desses meios, não necessariamente medíocres, ao mostrarem um mundo civilizado que não é o das bibliotecas poeirentas. Mas o povo não é idiota. Na França, quando ele quer ver a cumeeira da arte e da literatura, dirige-se naturalmente para a Torre Eiffel, para os teatros e salas de concertos, para o Museu do Louvre. Apesar de possuidor de uma cultura menos elevada, tem ele a consciência dos lugares onde se encontra a excelência, os faróis da grande cultura que nortearam e norteiam a humanidade”. Em termos brasileiros, a Pátria Educadora do governo petista negligencia a Cultura ao desarticular o passado, sendo a proposta curricular para as escolas, no que concerne à História e à Literatura Portuguesa, esquecida voluntariamente. Prossegue Servenière. “O povo será também infeliz se as elites desaparecerem. Não mais terão o farol que o orienta. Ficará na neblina, que impede o olhar. Jamais se deve pensar que o povo – pelo fato de ter menor acesso às fontes do elitismo intelectual, que é tantas vezes característica de um meio social que se auto entretém – é mais idiota do que as elites. Muito ao contrário! Quantas não foram as vezes em que ouvi ou vi propostas de bom senso nas quais as elites mundiais não pensaram pelo fato de conclamar um pensamento unificado! O que me parece evidente é que tanto o camponês como o trabalhador braçal, a partir da simples observação do real transmitida através dos séculos de existências voltadas ao ofício manual, tinham propostas que seriam bem mais úteis e inteligentes do que a demagogia mortífera das ideologias propaladas inicialmente em salões de portas fechadas. O bom senso: eis uma constante do espírito humano que desertou arcanos de ministérios e governos, tanto na atual França como em seu país! Não é populismo, mas realismo, simplesmente.
Batalhem pela língua portuguesa, hoje, evidentemente, sim! Mas não se inquietem, pois a juventude do Brasil deve ser mais inteligente do que cadáveres políticos. Continuem a lembrar as essencialidades, sem cessar, como você o faz regularmente em seu blog. E que a nova geração continue a se alimentar do real, fazendo uma cruzada definitiva contra a ideologia! Deixemos os cretinos, como estamos fazendo em França, cavarem seus sepulcros, sozinhos” (tradução: JEM).
Os dois próximos blogs já terão se desviado da temática que fui impelido interiormente a transmitir ao prezado leitor. Articulistas abalizados, politicamente bem mais documentados do que eu, estão tratando da grave crise do nosso pobre Brasil, infestado pela corrupção que se abateu no Planalto há mais de uma década. O leitor certamente os conhece.
Abordarei o grande escritor-aventureiro francês, Sylvain Tesson, frequentemente presente neste espaço – mercê de seus extraordinários livros, que busco resenhar -, não apenas em leitura que estou a finalizar de uma sua obra da juventude, como também a partir de magnífico vídeo de palestra que realizou recentemente em Nice, na qual a síntese de seu pensamento está presente.
Today I publish a message received from the French composer François Servenière with his comments on the dismantling of the Portuguese language and mentioning other topics as well.
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