Navegando Posts publicados em julho, 2016

Heitor Rosa e seus contos hilariantes

Então
os sinos irromperam
de alegria
no teu místico voo.
Idalete Giga
(“O Canto da Palavra”)

Heitor Rosa, um sábio, antes mesmo de ter enveredado pela literatura. Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de Goiás, ocupou cargos acadêmicos relevantes. Renomado hepatologista brasileiro e autor de inúmeros artigos significativos para publicações científicas de sua área, Heitor Rosa não se restringiu unicamente à medicina. O imaginário, após os horários de uma atividade profissional que prossegue exitosa, levou-o a viagens as mais extraordinárias pela história das práticas médicas, tratamento e posologia. Estudou profundamente ervas e poções utilizadas, mormente  a partir da Idade Média. A sabedoria de Heitor Rosa expande-se de maneira elástica, chegando às práticas mais hodiernas da medicina.

Considere-se que parte considerável desse precioso acervo, que corrobora o conhecimento acumulado durante séculos, encontra-se empoeirada em quantidade enorme de compêndios sobre procedimentos médicos  variados, que permanecem quase sem visitação nas Bibliotecas espalhadas pelo mundo. O desconhecimento e a não frequência a essas raridades tornam inviáveis, na atualidade, compreendê-los em sua abrangência graças à diminuta divulgação. Antolha-se-me que, em  quase todas as áreas, o descaso pelo passado oblitera irremediavelmente a análise precisa do presente.

Conheci Heitor Rosa em Goiânia. Quando na cidade para recitais ou curso estudo em seu apartamento, no piano diariamente frequentado por sua esposa, a professora da Escola de Música e de Artes Cênicas da UFG, Consuelo Quireze Rosa. Conversas com o prezado amigo são riquíssimas nas tantas temáticas abordadas, pois não temos limites nesses diálogos prazerosos. Escritor dos bons, ofereceu-me há anos dois livros referenciais, “Memórias de um Cirurgião Barbeiro” (Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2006) e “Julgamento em Notre Dame” (São Paulo, Livronovo, 2009). O primeiro, já lido com todo interesse, espero resenhá-lo ainda neste ano. Nesta última viagem a Goiânia, para participar do VIº Simpósio de Musicologia promovido pela EMAC-UFG, presenteou-me com livro bem anterior, “O Enigma da 5ª Sinfonia” (São Paulo, Ecrituras, 2000).

O debruçamento de Heitor Rosa sobre práticas cirúrgicas, processos de manipulação de medicamentos e instrumental utilizado enriqueceu seu imaginário. Seria possível também entender que as ideias concernentes às narrativas tenham estimulado a pesquisa. Há sempre mistérios a envolver a criação.

Em “O Enigma da 5ª Sinfonia” Rosa apresenta contos, por vezes hilariantes e plenos de humor. Essa alternância conduz o leitor à vontade de continuar a penetrar nas histórias que se sucedem. Frise-se, o médico consagrado está presente em muitos dos contos, não fisicamente, mas a  transmitir seu conhecimento da história da medicina, aplicando-o aos vários personagens, alguns grandes figuras do passado, em situações relativas aos possíveis males que porventura tenham sofrido.

Pleno de humor, o conto “Fiat Lux”, a envolver um suposto cálculo na bexiga de Sir Isaac Newton (1642-1727). Jocoso o fantasioso diálogo com o médico instado a consultá-lo em 1726, mercê de hipotética incontinência urinária do notável cientista, matemático, físico, filósofo, astrônomo, teólogo e alquimista. Insiro parte dessa conversa:

“- Sire, estou certo de que tendes cálculos.
- Isso todo mundo sabe, eu vivo de cálculos. Não vieste de tão longe para dizer-me isso.
- Quero dizer na bexiga…
- E é grave?
- Com mais observação posso calcular a gravidade.
- Não sejais pretensioso. Quem calcula a gravidade sou eu e já fiz isso há vinte anos atrás.
- Está bem. Vou fazer uma fórmula para os vossos cálculos e ficareis sem dores.
- Não. Vós não entendestes nada. As fórmulas resultantes dos meus cálculos já foram publicadas. Sabeis realmente quem sou?
- Acho que quem não entendeu fostes vós, senhor. Estou querendo segredar-vos que tendes uma pedra…
- Se viestes aqui pensando que eu tenho o segredo da pedra filosofal, estais perdendo o vosso tempo, amigo, e sendo impertinente.
- Sois obsessivo, senhor. Desde que aqui cheguei não me deixais concluir o pensamento,  pois há vários minutos tento dizer que tendes uma pedra na bexiga e quero formular um remédio para vossas dores.
- Por que não dissestes claramente? Por vezes eu não sei distinguir as leis da minha natureza daquelas da natureza universal e posso confundir as palavras”.

No desenrolar do conto em apreço, Heitor Rosa demonstra todo um conhecimento das práticas  e medicações àquela época empregadas.

Não menos hilariante o conto que empresta título ao livro, “O Enigma da 5ª Sinfonia”. Partindo de um pequeno tratado sobre percussão clínica de 1761, de autoria do médico austríaco Leopold Auenbrugger, Rosa percorre algumas décadas e “está” em Viena a narrar o diálogo de  médicos a respeito do precioso tratado e o diagnóstico que poderia advir em doenças do tórax e do abdome. Enfim, ei-los diante de Ludwig van  Beethoven (1770-1827), que estaria a sofrer de problemas no abdome. Novamente transcrevo segmento do conto em que o suposto Dr. Rosen (!!!) demonstra o cuidado que levaria ao diagnóstico:

“Minha mão esquerda estava espalmada sobre o abdome, enquanto que um dedo da mão direita martelava firme e ritmicamente sobre um dos dedos espalmados. Os sons iam aparecendo e mudando de timbre à medida que novas áreas iam sendo percutidas. O som maciço nos flancos denunciava uma provável presença de hidropisia, enquanto que do centro da barriga ecoavam os sons de um tambor, acusando a presença de gases nos intestinos. Percuti novamente a área e fui subitamente interrompido por uma ordem imperiosa e angustiada.

- Pare! disse Beethoven. Pare, não quero mais sentir este som.
- Perdão, mestre, não tive a intenção de provocar-lhe dor.
- Eu não estou sentindo dores… Ou melhor, minha dor é outra. Eu disse que não quero mais sentir os meus sons.
- O senhor quer dizer que ouviu os sons?
- Não, para ouvir os meus sons eu não preciso escutá-los.
- Não entendi. Mas por que devo interromper o exame? Não compreendo…
- O senhor não sabe e nem deve compreender. Oh! Deus, estas batidas, estes sons batendo à minha porta. É assim que o destino bate à porta?
- Bem, eu não sei… mas não tinha a intenção de incomodá-lo.
- Não é o senhor que me incomoda, é o destino.
- Mas o que tem o destino a ver com meu exame?
Pareceu-me que ele delirava, tal a reação incontrolável que minhas pancadinhas provocaram no mestre.
- Basta, doutor Rosen O senhor não sabe o que está dizendo e nem vou explicar-lhe.
Beethoven vestiu a sua camisa e sem uma palavra dirigiu-se ao piano na sala contígua, sentou-se e decididamente tocou: Sol, Sol, Sol, Mi bemol”.

O narrador, Dr.Rosen, demonstra seus conhecimentos ao transcrever a receita adequada: “Prescrevi-lhe uma poção de ratânia, para tomar às colheradas, e gotas de ipecacuanha. Valeram-me os medicamentos que trouxera de Paris. A medicina francesa enriquecera-se bastante com o conhecimento médico das plantas exóticas com propriedades medicinais, trazidas das mais remotas regiões da terra; essas novas aquisições e suas formulações já podiam ser estudadas na Pharmacopée Royale Galenique et Chymique“. As inúmeras viagens ao Exterior, inclusive estágios prolongados em centros médicos renomados, foram essenciais a Heitor Rosa em seus aprofundamentos sobre a história da medicina.

O conto se desenrola e, para a primeira audição da “Quinta Sinfonia”, o Dr. Rosen foi convidado. Ficaria extasiado ao ouvir o “resultado” das suas batidas percussivas no abdome do compositor e… revindicaria a coautoria temática.

Gargalhei durante a leitura do conto “Regresso ou regressão?”, no qual um comerciante com total idiossincrasia por voos enfim consulta um psicanalista. Todo o transcorrer da narrativa em que o consultado Saul Divino é tratado pelo médico Godofredo, as regressões através do hipnotismo que o levam primeiramente aos tempos de Santos Dumont e, numa segunda sessão, aos de Leonardo Da Vinci, são simplesmente de imensa imaginação.

O auto,  “O achatamento do monte Paschual”, peça em um ato, apresenta com a comicidade necessária e com o conhecimento histórico prévio de Heitor Rosa, a navegação de Pedro Álvares Cabral, desvio da rota e muitas surpresas. Entre os personagens principais: “Pedr’Alvarez Cabral, Capitão Pero Escolar, Pedro Vaz Caminha, Luis Camoens, Frei Henrique Coimbra e o Sururgião”.

“Houve um tempo em que não havia juízes em Israel e cada um fazia o que lhe desse na cabeça ou o que julgasse melhor. Mas depois houve um tempo em que havia juízes. Uma pessoa se tornava juiz por um dos três caminhos: por escolha do povo, por autoaclamação ou por desígnio divino”. Heitor Rosa, em “Juízes Finais”, conduz um longo julgamento de juízes em tempos bíblicos, perante o Sumo Sacerdote Jabeslão e o grupo de anciãos, a resultar na absolvição de todos. Induziria o leitor a traçar paralelismos…

Os dois últimos contos, curtos, mas engraçadíssimos, levam-nos a conhecer Creusa “… que entrou em nossa vida por acaso, ou melhor, só porque precisávamos de alguém que arrumasse a casa”. Creusa, de 120 quilos, estabanada, destruiria, na arrumação e na ausência do “patrão”, dois manuscritos do século X como papel velho, retiraria todos os livros da biblioteca, recolocando-os ao seu critério, passaria bom bril em todos os CDs a fim de limpá-los e… cantava, ou melhor, “gargarejava”.

A nossa vida cultural está às avessas. São os holofotes que “determinam a qualidade” e não o valor intrínseco de um autor. Em todas as áreas culturais. São divulgados ad nauseam autores que, na realidade, têm a “auréola” da mediocridade. Conhece o Brasil Heitor Rosa? Editoras mais representativas no Brasil publicam seus livros? Nada a fazer nesse universo mediático nivelado rigorosamente por baixo.

This post comments on the book “O Enigma da 5a. Sinfonia” (The Enigma of the 5th Symphony), written by the gastroenterologist Heitor Rosa. A serious researcher of medical practices from the past, his stories with fictitious and historical characters blended together completely captivate readers with conciseness, humor and imagination, at the same time giving a lesson on medicine history. It’s time to shed light on this talented and highly underestimated writer whose books deserve better promotion and marketing.

 

 

 

 

Quando o terrorista solitário age de modo inédito e de surpresa

A finalidade do terrorismo não é apenas matar cegamente,
mas lançar mensagem para desestabilizar o inimigo.
Humberto Eco

Perdoar terroristas é coisa de Deus,
mandá-los para Ele é coisa minha.
Vladimir Putin

Palavras aceitas e divulgadas pela mídia são repetidas ad nauseam e ganham interpretações impróprias. Ao ato terrorista isolado propagou-se a designação “lobo solitário”. Os lobos, como tantos outros animais predadores, atacam para defender a sobrevivência. Reunidos em grupo, formam matilhas que ainda hoje, mormente nas terras gélidas do hemisfério norte, constituem perigo para rebanhos e para humanos. Solitário, o lobo busca seu alimento, sempre a atender sua necessidade de viver. Designar “lobo solitário” um tresloucado é retirar do animal selvagem sua altivez.

O espetáculo que foi transmitido largamente pela mídia, de um caminhão em alta velocidade a esmagar em Nice a população que regressava de festejo cívico, é inominável e já teve a procedência garantida (?), a jihad islâmica. Quão mais sórdida a atitude do motorista demoníaco, divulgada em todo o planeta, se observado for o cenário indiscriminado escolhido. Não foram seguranças, militares ou policiais os seres visados, mas uma população feliz constituída por famílias inteiras, adultos e crianças, maravilhada pelo espetáculo dos fogos de artifício.

O princípio ativo dos fogos de artifício originários da China, o pó negro ou pólvora, foi introduzido na Europa por Marco Polo. Na França há uma larga tradição voltada ao deslumbramento produzido pelos fogos de artifício. De um primeiro espetáculo na Place de Vosges (Place Royale), quando do casamento de Ana da Áustria com Louis XIII em 1615, à magnificência das festas da monarquia francesa até as fronteiras da Revolução de 1789, os fogos de artifício simbolizariam séculos a seguir a ratificação do orgulho nacional e assim é entendido até nossos dias. A data de 14 de Julho se confunde com os fogos de artifício, corolário dos festejos noturnos. O notável compositor francês Claude Debussy (1862-1918) eternizaria a ligação intrínseca da festa do 14 de Julho, data nacional francesa, em um de seus mais significativos prelúdios, “Feux d’artifice”, encerrando o segundo volume (1910-1912), a citar nos compassos derradeiros (de très loin) a Marseillaise (dó maior), sob pedal de ré bemol, a substanciar o hino francês em expressiva evocação.

O ato do terrorista solitário atingiu o cerne do símbolo maior da França. Não há alguém minimamente instruído espalhado pelo planeta que não saiba a magnitude do 14 de Julho e não conheça a Marseillaise. Os fogos de artifício sacralizam a data metaforicamente e substanciam palavras hoje em perigo, Liberté, Fraternité, Egalité.

François Servenière, impactado com a tragédia em seu solo natal, enviou-me mensagem que repasso aos leitores. Compositor e pensador, Servenière há um bom tempo tem sido crítico à gestão de François Hollande e de sua incapacidade de ser líder. Eis a mensagem após o blog “500 posts!!!”: “Estou desolado por não lhe ter escrito de imediato, mas todos nós estamos chocados com aquilo que se passou em Nice. Conheço bem a Promenade des Anglais, pois, como muitos franceses, lá fui diversas vezes. No momento exato do atentado em Nice, estávamos, minha mulher e meus filhos, à beira mar em Deauville, pelas idênticas razões, olhar e admirar os fogos de artifício que a cada ano, nas cidades costeiras, transformam-se em evento grandioso. A família Ruggieri, francesa e de origem italiana, tem reputação mundial nessa arte milenar, e tenho a lhe dizer que somos privilegiados ao assistir às proezas artísticas e técnicas em todas as cidades francesas nessa data emblemática.

Ao acabarem os festejos com os fogos de artifício, durante nosso trajeto de 1km até o carro – havia 30.000 pessoas em Deauville admirando a festa -, sirenas de ambulâncias e de carros de bombeiros irromperam e buscavam encontrar um caminho entre a multidão, como se houvesse um alerta. Reconstitui o horário desse acontecimento no dia seguinte, pois não acessei rádio ou TV ao voltarmos para casa e apenas soube da tragédia na sexta-feira pela manhã. O alerta que observamos foi 10 minutos após o atentado em Nice. Deauville está situada sobre o eixo A13, aquele das cidades de terroristas e dos atentados recentes (assassinato de policiais, número de ataques a mão armada na Normandia, bem próxima da periferia islamizada). Tão logo os serviços de inteligência souberam do atentado em Nice, rapidamente os policiais evacuaram as imediações das praias. Inúmeras festividades que contavam com os fogos de artifício foram anuladas em toda a costa francesa. Luto nacional por três dias, duro golpe ao turismo, atualmente o que melhor funciona na França. Alemães não mais querem vir ao nosso país, aeroportos, estações e logradouros públicos não são suficientemente seguros. Militares que patrulham os mais variados lugares não têm ordens para atirar em caso de tragédia… Pessoalmente, não mais viajarei de avião por Roissy, mercê daqueles recrutados que lá se encontram: escumalha de 93 (conferir o livro Les mosquées de Roissy, de Philippe de Villiers). O governo atual, que ainda estará no poder por mais de 6 meses, é inteiramente responsável, pois constituído por incapazes ideólogos que não têm a coragem de pegar o touro pelos cornos”. (Tradução J.E.M.).

O desabafo de François Servenière tem suas razões fundamentadas. Notem-se os  episódios em Callais, onde integrantes das dezenas de milhares de imigrantes, vindos principalmente do Oriente Médio, provocavam à noite um verdadeiro toque de recolher à população local. Morando bem perto na Normandia, Servenière mudou-se com a família para local mais seguro, distante dessas possíveis ameaças.

Não acredito que essa onda de terrorismo finde. Continuará. O terrorismo não seria fruto da pobreza, mas de frustrações de ideologias estanques, que jamais buscaram a marcha da Humanidade. Há nessas ínfimas minorias insanas o pensamento unitário de destruir a civilização e a cultura ocidentais. Imbuídos de dogmas que perduram, essas ideologias cultuam a implementação de um só pensamento, sem qualquer variante. Não há a possibilidade do contrário. Mario Vargas Llosa já apontava que “proibir ou discriminar ‘seitas’ não está ao alcance dos regimes democráticos e sim daquelas sociedades onde o poder religioso e político é um só, como a Arábia Saudita ou o Sudão, em que o Estado determina qual é a verdadeira religião, arrogando-se o direito de proibir as falsas e de castigar o herege, o heterodoxo e sacrílego, inimigo da fé. Numa sociedade aberta isto não é possível, pois o Estado deve respeitar as crenças particulares, quão disparatadas forem elas, sem identificá-las com nenhuma igreja…”.

Paradoxalmente, a divulgação planetária pela internet – uma das causas do recrudescimento sem limites do terrorismo -, as investidas desastrosas dos Estados Unidos no Oriente Médio, a abertura desenfreada à imigração, entre outros fatores, serviram para o surgimento desses grupos tresloucados. Frise-se que a comunidade muçulmana, ao longo de tantos séculos, teve contato sem traumas maiores com a cultura ocidental. Nunca é demais lembrar que nossa presidente afastada propôs “diálogo” internacional com o “Estado Islâmico”, EI (sic). Na realidade, o terrorismo sempre desconheceu a razão. Indiscriminadamente aniquilam crianças e adultos, não importando a quantidade desses infortunados. O convívio com esses atos extremados fará parte da atualidade e, infelizmente, do futuro. Difícil solução. Aguardemos o que está por vir…

This post reflects on the terrorist attack in Nice on Bastille Day. The French composer François Servenière, who was in Deauville with his family watching a fireworks display, describes how, a few moments after the attack in Nice, ambulances and fire engines suddenly appeared in Deauville, trying to disperse the crowds on the seafront. He also shows his disenchantment with the French government’s failure to combat terrorism. As for myself, I don’t believe this wave of terror will end. Modern societies will have to live with this threat, made worse by the mistakes of US foreign policy, open immigration laws and the media. After all, the architects of terrorism need to increase the violence of their acts to take advantage of media sensationalism.

A partir de um primeiro aos 2 de Março de 2007

É um velho adágio Atula, não de hoje:
“Acusam aquele que está em silêncio,
acusam aquele que fala demais,
até acusam aquele que fala moderadamente.
Não há ninguém neste mundo que não seja acusado”.
Dhammapada
(As palavras de Buda – 227)

Magnus Bardela é aquele amigo impecável. Em fins de Fevereiro de 2007 conversávamos no terraço de minha casa a respeito de vários temas, música a preponderar. Foi a diversidade que fez com que, a certa altura, Magnus tenha proposto uma pergunta: “Por que você não cria um blog?”. Esse questionamento, já o mencionei em blogs bem anteriores. Hesitei inicialmente, mas mantenho até hoje uma ignorância notória relacionada aos avanços internéticos. Magnus orientou-me e ainda agora, diante de minha absoluta incapacidade de resolver problemas que surgem, sana-os por telefone, sabedor da deficiência crônica e, sobretudo, voluntária do amigo na área. Foi Magnus que acionou meu computador e, minutos após, chamou-me, a dizer que a partir daquele momento tinha eu um blog. E iniciava-se a saga que perdura. Aprendi, após dois ou três anos titubeando, a lidar com o blog, montando o texto e escolhendo as imagens apropriadas a cada post.

Ao longo do tempo, fiz referências várias à ideia que leva ao tema da semana. Ela tem um fluxo natural e desliza pela mente com serenidade durante meus treinos de corrida a visar à qualidade de vida e às provas de rua da cidade ou alhures. Diria, há todo um esquema que é elaborado e construído na sequência das passadas a correr. Escolho um tema, organizo-o e desenvolvo-o mentalmente, inclusive com a divisão em segmentos e armazeno o futuro post no cérebro. Na primeira madrugada, esse tema flui no teclado do computador. Redigido, transmito-o à nossa dileta amiga e vizinha, Regina Pitta, que  verifica algumas incorreções geradas no texto escrito num só impulso. Esse é o roteiro a levar o blog até o leitor. O nosso maior compositor romântico, Henrique Oswald (1852-1931), já dizia que o pior revisor é o autor e que ele sentia-se o pior entre os piores nesse mister.

Nestes 9 anos e tais meses, não houve a interrupção de um sábado sequer. Aos cinco minutos desse dia, o post é publicado e ao leitor julgá-lo.

Seria relevante mencionar que considero econômica a divulgação de meu blog. Sem propaganda alguma, nesse ato voluntário de jamais ter buscado apoio, entendo essa atitude pessoal, mas salutar. Dá a mais absoluta liberdade quanto ao que escrevo, assim como responsabilidade pela temática escolhida semanalmente, possibilitando-me singrar mares com ondulações cotidianas. Não sofreria a ideia que leva à criação de um texto constante mutação? Nem sempre, mas quando isso ocorre, existe a chancela de um resultado melhor. Parafraseando o grande escritor português Guerra Junqueiro ao tratar de obra finda, aplico sua conclusão aos meus modestos textos: “Um livro atirado ao público equivale a um filho atirado à roda. Entrego-o ao destino, abandono-o à sorte. Que seja feliz é o que eu lhe desejo; mas, se o não for, também não verterei uma lágrima”. Frase dura, mas que reflete no âmago a autenticidade do autor, inequívoca, a saber, a razão do escrito, sua viagem e voo livre.

A música sempre foi meu norte, mas faz parte de um conjunto de outras matérias que me encantam, surpreendendo-me nessa travessia. Ávido leitor, jamais me fixei unicamente na área pianística. Ver o mundo, mesmo que pelo olhar competente de especialistas aventureiros, na acepção meritória do termo; participar de um romance, quando relevante; ler livros da área, hoje bem mais aqueles em que compositor ou intérprete se abre inteiramente, a desvelar seu processo criativo e visão do mundo; penetrar na literatura esportiva, que traduz tantas identidades com a atividade musical no que concerne ao preparo físico e à determinação. Eis algumas de minhas incursões relacionadas à leitura,  resultando resenhas e comentários que faço habitualmente (vide Resenhas e Comentários no menu).

Não poucas vezes encontro pessoas que têm acesso ao blog. Apraz-me saber que se interessam pela diversidade temática. É claro que o número restrito dessas consultas aos textos nada tem a ver com o acesso ao monotematismo blogueiro existente em outros tantos e infindáveis exemplos que existem em nosso país. Impressionam-me os milhões de acessos diários a esses blogs precisos em suas intenções, mas voltados a uma área apenas de atuação. Nesse mundo tão complexo, estranho, específico, unem-se patrocínio, divulgação e notoriedade alcançada. Palavras como “famosos”, “celebridades” e “estrêlas” convergindo para possantes luzes, são aplicadas ad nauseam. A qualidade seria apenas um pormenor em parcela considerável dos blogs que proliferam com enorme acesso. Bons ou maus no conteúdo, bem ou sofrivelmente redigidos, atingem as “tribos” ávidas pela informação buscada com finalidade precisa. Por vezes leio ou ouço que determinado blog atinge diariamente número incomensurável de acessos. Alimentados diariamente, em reiteradas oportunidades durante um dia, o leitor encaminha-se ao que prega o “oráculo” de sua predileção. Há nessa atitude uma tendência milenar de fuga da solidão, do cotidiano que pode massacrar, da procura da companhia certa em momento certo.

Continuo desde 2007 a ter o blog hebdomadário. Os poucos milhares de leitores semanais têm acesso todos os sábados ao novo texto, que diversifica a temática, sempre a atender ao meu restrito universo de opções, mas que traduz na realidade o meu olhar este mundo, que a cada dia está a nos surpreender para o bem, e hélas, principalmente para o mal, para a crueldade sem limites, para a ideologia insana que fatalmente leva às ditaduras de toda ordem, mercê da política predominantemente torpe, para a saúde pública inexistente, para a educação em crise descendente, para o desmonte da cultura erudita a cada ano mais restrita a guetos, que ainda não necessariamente compreenderam o fato irreversível, diria. Sim, a cultura erudita não desaparecerá, mas a massificação, que nivela por baixo, só tende a crescer. Todos esses fatores têm implicação em nossas reflexões e se, por algum motivo, escrevo um blog a respeito desses desmandos, faço-o atristado.

O leitor bem sabe que os “comentários estão desabilitados” em meu blog. Que não veja nesse ato uma vontade de privá-lo dessa participação, que pode ser feita através do contato assinalado no menu. Tenho todo o prazer de responder aos e-mails, fazendo-o regularmente. No sentido “aberto”, forma-se uma rede de mensagens e de respostas às respostas, o que, ao meu ver, polui tantos blogs meritosos. De repente, o autor se vê partícipe de comentários que extrapolam o texto, motivo das discussões.

Música, blog e corridas fazem parte de meu universo mental. O apoio irrestrito da família é fulcral e a assistência permanente de meus amigos Magnus Bardela e Regina Pitta, para a tecnologia a cada dia trazendo inovações, e a revisão e o abstract precisos, respectivamente, são estímulos diários. Nesses últimos cinco anos, meu dileto amigo, ilustre compositor e pensador francês, François Servenière, tem-me honrado com mensagens substanciosas logo após a publicação do blog. De Le Mans, onde habita com a família, já lê com desenvoltura os textos em português, o que facilita seu entendimento. Traduzo suas mensagens impecáveis, a enriquecer meus textos. Por fim, estou a me lembrar do saudoso amigo e imenso artista plástico, Luca Vitali. Durante uns poucos anos num caminhar conjunto, Luca ilustrou com imaginação singular inúmeros blogs. Sinto muitas saudades de nosso convívio.

Chego esperançoso aos 500 posts. As décadas acumuladas jamais me trouxeram desalento. É bom assistir ao andar do homem pela História. Continuarei como observador.

This week my posts reach number 500 with an unbroken flow of publications since March 2007. To mark the occasion, today I talk about my ways of coming up with new topics each week, covering a wide variety of subjects, with emphasis on music.