Navegando Posts publicados em maio, 2020

A gênese de inúmeras conceituações

Dans la vie on n’a jamais le temps…
(Carnets V – 2 )

Si je supprime l’arbre je supprime
les messages que je puis recevoir.
(Carnets III – 123)
Saint-Exupéry

A leitura dos Carnets (Paris, Gallimard, 1999 – 1º edição, 1975) de Saint-Exupéry poderia desconcertar leitores assíduos do piloto-escritor. Redigidos entre 1936 e, possivelmente, 1942, durante a ebulição de Terre des Hommes (1939), e a anteceder Pilote de Guerre (1942), Le Petit Prince (1943), Lettre à un otage (1943-1944) e Citadelle, obra póstuma, os Carnets apresentam uma série de reflexões sobre o condicionamento do homem frente à História. A conviver com a obra literária de Saint-Exupéry, constantemente revisitada, mormente Citadelle, a leitura bem tardia dos Carnets foi-me reveladora de outras mais reflexões do autor.

Os Carnets, sob uma ótica, têm viés que pode desorientar o leitor; sob outra égide revelam na acepção o pluralismo de Saint-Exupéry, a sua abrangência humanista à antiga, pois seu pensamento perpassa literatura, política, ideologias, economia, religião, assim como temas não abordados em sua obra literária, como física e mecânica. Essa visão do mundo sob várias facetas poderia ser comparada ao multidirecionado pensar durante o iluminismo em pleno século XVIII em França.

Na introdução de Pierre Chevrier tem-se o modus faciendi desses Carnets: “Saint-Exupéry tinha consigo, no bolso interior de sua vestimenta, uma caderneta encadernada em couro macio, na qual consignava suas reflexões as mais diversas. É fácil detectar, durante a leitura desses apontamentos, aqueles que lhe servirão como aide-mémoire para trabalho posterior, outros que ele desenvolvia para clarificar seu próprio pensamento ou mesmo vários que surgiam como uma exclamação”. Os Carnets foram escritos tantas vezes em situações incômodas, como em voo ou em carro, o que fez com que algumas palavras se tornassem ilegíveis.

Os textos inseridos nos Carnets não foram escritos para ser publicados, diferentemente de outro recentemente resenhado neste espaço, Une très légère oscillation, de Sylvain Tesson, nitidamente pensado para publicação. Esse descompromisso dos Carnets com o futuro, se sob um aspecto faz fluir reflexões inúmeras vezes sem continuidade ou frases isoladas, sob outra égide, mercê da prolixidade temática, não incita à leitura de maneira sequencial. Há temas precisos voltados a áreas de conhecimento de Saint-Exupéry, como mecânica, física, matemática, economia e salários, política num período de transformações sensíveis pré-Segunda Guerra e seus primórdios, temas tratados com terminologia apropriada, distanciando-os do leitor habituado aos seus romances e narrativas. Para desconhecedores de determinadas dessas áreas, voltadas a experimentos de ordem mais “técnica”, a leitura pode tornar-se ininteligível. Não tendo ligação com romances que tiveram plena aceitação, há, nos Carnets, reflexões não continuadas que estarão metamorfoseadas em seus livros, mormente em Citadelle.

Desfilam na Agenda e nos cinco Carnets que integram o livro – cada Carnet com as reflexões numeradas -, vários personagens, a grande maioria desconhecida hoje, mas que faziam parte de um amplo cotidiano, presencial ou não, do autor.

Entre as numerosas conceituações, muitas sem continuidade, considera, através de sua visão humanista, que políticos não têm de “fundamentar conceitos, pois esse é trabalho do espírito e através dele a humanidade caminha”.

Entende similaridade entre domínio espiritual e intelectual e que “uma civilização oferece ordenamento na natureza e no homem. Uma civilização oferece a riqueza do coração”. Essa junção de valores humanistas percorrerá toda sua obra literária.

A se orientar por princípio basilar negligenciado, mormente em nosso país, observa que “o povo não pede a realização de sua vontade, mas sim de ter direito à educação, à compreensão”.

Para músicos, preferencialmente pianistas, Saint-Exupéry explana longa conceituação sobre destinação da riqueza a um carro de luxo e a um piano de cauda: “A aristocracia do dinheiro não coincide com a aristocracia verdadeira. As reformas sociais devem se ater à renovação de certa aristocracia, como também dispor uma economia que permita consumir tudo. Se é chocante comprar-se um piano de cauda face a um morador de rua que passa fome, não significa o fato que a compra de um piano não seja infinitamente digna do homem. Primeiramente será necessário permitir ao morador de rua comer, sim, mas não agir demagogicamente a impedir a compra de pianos de cauda. De fato, tem-se não uma solução econômica, mas um retorno moral que infelizmente se prende à noção mesma de grandeza, de luxo, de dignidade e de elevação espiritual. A distribuição de pianos de cauda para moradores de rua resultaria zero (um franco por homem e a cada ano…) e é bom que se conserve numa sociedade esse móvel de emulação, essa esperança ou, mais exatamente, essa imagem da grandeza humana. Os membros de um povo que possuem uma rainha têm um pouco do sangue real correndo em suas veias,”.

Inúmeras reflexões sobre sistemas políticos estão inseridas nos Carnets. Reiteradamente Saint-Exupéry retorna ao tema, o que demonstra sua preocupação no peristilo da 2ª Grande Guerra. Também pormenoriza-se nas várias categorias de classes sociais. Essas reflexões, por vezes repetitivas em apontamentos distanciados, refletem a tensão vivida no período.

Segmentos maiores ou menores que compõem os Carnets propiciam, por vezes, reflexões curtas à maneira de aforismos, essa sentença breve que encerra a síntese de uma reflexão. A menção a alguns faz-se oportuna:

O instinto de identidade é mais forte do que aquele de conservação.

Do homem eu não me pergunto ‘qual o valor de suas leis’, mas ‘qual é seu poder criador’.

Por que a verdade conceitual leva-me a verificar a verdade da observação? (Entre Newton e o louco há pouca diferença).

Assim são as leis da natureza.  Primeiramente a ordem, que é a “expressão” da natureza.

Psicanálise. O homem quer formular aquilo que sente. Se não formula, ele inventa os atos.

Trata-se de saber se eu prefiro o homem livre ou não – mas eu prefiro o homem que é livre.

Depreende-se dos Carnets a propensão para a busca, “visionária” talvez, de uma igualdade. Se condena a ganância pelo lucro no sistema capitalista, faz também duras críticas ao socialismo. Esse pensar liberto de amarras não o torna indiferente. Se questiona tantas vezes, em outras mais reflexões posiciona-se e nesse redesenho cresce o pensador voltado à problemática do destino do homem e de sua condição. A leitura dos Carnets torna-se instrumento relevante, a corroborar o entendimento de suas obras literárias, mormente pelo fato de estarmos diante de fragmentos ou esboços. (tradução: JEM)

Comments on the book “Carnets”, by the French writer and aviator Antoine de Saint-Exupéry, made up of fragments of notes and thoughts not thematically linked, often jotted down on-the-go and saved in a leather bound pocket journal Exupéry carried with him. The author being a multi-faceted talent, such notes cover a wide range of topics: literature, politics, economics, religion, as well as technical subjects, like physics and mechanics. Not intended for publication, they served as an “aide-mémoire” for the author himself, with some ideas developed later in his fiction. Though just fragments, the Carnets are a useful reading for a better understanding of Saint-Exupéry’s literary work.

 

 


Entrevista a J.E.M.

Deus não se afirma nem se nega:
Deus É, mesmo quando não é, numa plena manifestação da sua extrema liberdade.
Agostinho da Silva (1906-1994)
(“Do Previsível e do Imprevisível”)

Sugeri ao meu irmão, Ives Gandra Martins, notável jurista, uma entrevista para o blog semanal. Motivos vários levaram-me à ideia. Primeiramente pelo fato de que Ives sofreu recentemente uma quarta cirurgia do Divertículo de Zenker (processo endoscópico), que resultaria, mercê de consequências imprevisíveis, em uma série de adversidades ao longo de prolongada hospitalização no referencial Hospital Sírio-Libanês. Restabelecia-se das vicissitudes quando contraiu o Covid-19. Apenas como referência, acrescentaria que em 2018 fui também operado do Divertículo de Zenker por endoscopia, intervenção relativamente simples, mas que imprevisivelmente provocou uma pneumonia, a me reter durante uma semana em UTI no ótimo Hospital Santa Catarina.

J.E. – Em algum momento antes da cirurgia, devido à sua faixa etária, alertaram-no sobre decorrências?

Ives – Não houve qualquer alerta, creio que pela simplicidade da operação. Os médicos esperavam que pudesse até sair à tarde.

J.E. – Naqueles angustiantes dias em que sequencialmente o seu organismo não reagia, seu genro e eu, sempre em contato, temíamos pela sua vida. Que força interior o levou a acreditar numa recuperação e em algum momento o irmão temeu a morte? É de conhecimento público sua religiosidade. Em que dimensão a situa?

Ives – Após o procedimento endoscópico tive, algumas horas depois, uma isquemia, sendo levado de imediato para uma unidade cardiológica. Na sequência, houve uma septicemia que me deixou em coma por seis dias. O estado inconsciente leva, todavia, em alguns momentos, o paciente a delirar. No meu caso, quando saía do estado comatoso, distinguia alguns elementos da família, mas voltava rapidamente a participar do delírio, revivendo fatos históricos (2ª Guerra Mundial, independência do Brasil, a guerra de secessão, etc), que desapareciam sempre que abria os olhos. Quando saí da inconsciência, contaram-me que ficara seis dias entubado e em coma. Assim que me livrei do entubamento e fui da UTI para a Semi-UTI e depois para quarto, peguei o corona vírus, ficando mais 11 dias no Hospital Sírio Libanês. Ao todo 38 dias. Nestes momentos, o importante é não desanimar, manter o espírito aberto – sempre brinquei com a enfermagem – e manter-se a par do que estava acontecendo no Brasil e no mundo. Foi o que fiz. Estou, todavia, convencido de que as orações de todos e as minhas também – assistia às missas diárias na TV quando fui liberado – levaram o médico divino a curar-me.

J.E. – Ao visitá-lo por duas vezes, não entrei no espaço em que o irmão estava na UTI, pois não me ofereceram máscara, jaleco ou avental descartável. Vi familiares e visitantes que entraram no seu espaço da UTI sem qualquer proteção. Seria uma das causas dos problemas até a contaminação pelo Covid-19?

Ives – Não creio. O mais possível é que dois dos médicos que me tratavam e que tiveram o corona, tenham-me passado.

J.E. – Durante os 38 dias hospitalizado o irmão acompanhou o início da evolução do Covid-19 no Brasil, temendo-o?

Ives – Quando peguei o novo corona vírus fiquei um pouco preocupado, mas nos 11 dias isolado não tive falta de ar, nem precisei de respirador.

J.E. – Qual a sua reação, em pleno processo de recuperação pós-operatória, ao saber da contaminação pelo Covid-19?

Ives – Não foi agradável, pois já estava internado há 27 dias, mas enfrentei, com tranquilidade, pois não havia outra alternativa.

J.E. – Tenho acompanhado as pesquisas internacionais a envolver medicamentos como Hidroxicloroquina + Azitromicina e Plaquenil. Em França, resultados concretos a partir da Hidroxicloroquina + Azitromicina têm sido reais, mormente a partir do protocolo do Dr. Didier Raoult, de Marselha. Correntes do governo francês contrariam as pesquisas alvissareiras do Dr. Raoult. O medicamento não é caro, mas precisa ser indicado por médicos, pois arbitrariamente consumido pode até levar a óbito. Dado o seu estado de saúde pré-Covid-19, esse medicamento foi-lhe administrado? Teria sido igualmente prescrito à Ângela, sua filha na foto, que contraiu o Covid-19 e já está curada?

Ives – Por lutar há 30 anos contra a artrite, tomei Plaquenil e Plaquenol durante muitos anos, que são remédios à base de Quinino. Talvez tenha havido alguma proteção pelo depósito de Quinino no corpo. No hospital, todavia, não tomei o remédio.

J.E. – Não teriam os três Poderes de se debruçar bem mais sensivelmente sobre áreas como saúde, educação, saneamento básico? O SUS, sustentáculo tênue nessa avalanche de infectados que a todo momento acorre aos seus postos, tem sofrido retração constante das verbas. Os índices estratosféricos do Covid-19 nos Estados Unidos não seriam bem inferiores tivesse o país um modelo público, tipo SUS? Não mereceria doravante o SUS uma atenção plena do governo, mormente pelo crescimento excessivo, pós-Covid-19, das classes menos favorecidas?

Ives – Passo-lhe artigo por mim escrito que saiu no Migalhas [vide link abaixo], entendendo que a união entre as três esferas da Federação seria fundamental para combater a Covid-19. Nenhum país do mundo estava preparado para enfrentar a pandemia, com “escolhas de Sofia” sendo feitas em países desenvolvidos como Itália e Espanha. No caso brasileiro, a não obediência ao confinamento tem dificultado ainda mais o combate a sua disseminação.

J.E. – Sobre a problemática confinamento-economia, quais suas perspectivas?

Ives – “É difícil dizer. Os governos estão gastando mais e recebendo menos. Se forem para um aumento da carga tributária para compensar a perda, esgotarão a sociedade e atrasarão a recuperação. Se pretenderem emitir moeda para se autofinanciar gerarão, no tempo, inflação.

A única forma seria, visto que 35% aproximadamente da carga brasileira é destinada aos servidores públicos de todas as entidades federativas e poderes, que houvesse um gesto de redução temporária de seus vencimentos, visto que está havendo redução de salários no setor privado e desemprego. Neste sentido, passo-lhe o texto de meu artigo “A omissão burocrática” publicado no “Estadão” [vide link abaixo]. O certo é que o mundo terá que repensar em nível de solidariedade e soluções econômicas e sociais a partir de agora. No Brasil, só com a redução da esclerosada máquina burocrática teremos condições de sair da crise.
Há 50 anos faço o melhor negócio do mundo: dou meia hora do meu dia assistindo uma missa e mais algum tempo entre oração, terço e poucas devoções, e recebo mais de 21h de Deus para gozar daquele dia. Nenhum banco pagou juros tão generosos, em qualquer momento da história da humanidade.

J.E. Ives enviou-me as respostas no dia 19 de Maio. Há exatamente 20 anos morria nosso saudosíssimo pai, figura emblemática na nossa formação, dias antes de completar 102 anos e um ano após nossa querida mãe. Hospitalizado, ouvi, uma hora antes do desenlace, as batidas aceleradas de um coração que batera sem cessar de 1898 ao ano 2000. Dois dias após, ouvia em uma maternidade o coraçãozinho acelerado da neta Valentina, que está a completar 20 anos. Mistérios insondáveis!

Finda a entrevista, Ives pediu-me para inserir Dumka de Tchaikowski, peça que interpretei em 1962 no Conservatório P.I.Tchaikowsky, Moscou, durante o II Concurso Internacional Tchaikovsky. Agradeço ao dileto amigo Elson Otake que atende à solicitação do irmão, introduzindo a composição no Youtube.

https://www.youtube.com/watch?v=S1IQtIpZCJA

“O combate ao coronavírus”

https://migalhas.com.br/depeso/326553/o-combate-ao-coronavirus

“A omissão burocrática”

https://gandramartins.adv.br/artigo/a-omissao-burocratica/

Today I publish a “conversation” with my brother, the eminent lawyer Ives Gandra Martins, who has recently been admitted to hospital for a simple and quick surgery, expecting to be discharged on the same day. However, a series of unexpected post-surgery complications including a six-day comma and later an infection by coronavirus kept him in hospital for 38 days. The family feared for his life, but fortunately he is already at home in a good general state. In this interview for my blog, Ives talks about his days in hospital and how his strong faith contributed to a positive attitude towards his health. As an expert tax lawyer, he also gives his views on the predicted economic and human chaos after Covid-19, stating that in Brazil, only with the reduction of its sclerotic bureaucracy the country will be able to get out of the crisis.


Recepção em Portugal nos tempos dos LPs

Le progrès en art ne consiste à l’étendre ses limites,
mais à les mieux connaître.
Georges Braque

Há tempos não apresentava Ecos, manifestações de interesse dos leitores que acompanham meus blogs. Dois comentários vindos de Portugal, escritos por amigos que não se conhecem, mas que, por incrível coincidência, abordam precisamente o contato auditivo com a interpretação de Guiomar Novaes através dos antigos LPs, fazem com que prazerosamente divulgue essas mensagens plenas de um “sabor” muito especial, nessa rememoração de tantas décadas passadas. Três outras mensagens paulistanas transmito ao leitor.

António Meneres é arquiteto e tem entre seus méritos pesquisas e divulgação no âmbito do patrimônio arquitetônico. Escreve:

“O texto que tive a ‘honra’ de receber trouxe-me à memória um antigo LP que eu muitas vezes ouvi na casa da Quinta do Romeu, fundada por meu bisavô Clemente Menéres que, com 16 anos, embarcou para o Rio de Janeiro, onde um velho parente tinha o seu negócio de ‘secos e molhados’…, expressão brasileira que aqui ninguém conhece…, e aos 17 casou-se com a filha, sua prima.

De regresso a Portugal, começou a comprar cortiça em Trás-os-Montes e lá, próximo a Mirandela, mandou construir uma bela casa que, infelizmente, sofreu um enorme incêndio e ficou em cinzas, isto em 1944… tinha eu 14 anos.

Foi construída no local outra moradia, que ainda visito, embora muito raramente.

Mas, nos anos 50, um meu tio avô, seu filho, procurava os meus conselhos de jovem arquitecto para mandar fazer melhorias nas casas dos empregados desta grande propriedade (ele, meu bisavô, foi adquirindo parcelas com sobreiros, durante a sua longa vida) e ainda hoje é a maior propriedade em Trás-os-Montes, embora extremamente fragmentada.

Mas vamos ao assunto: – quando eu regressava a casa, depois de um dia passado em cima do jeep nas aldeias próximas onde residiam alguns dos empregados, tomava o meu duche e ia para a sala, ligava o gira-discos e colocava um LP, julgo da His Master’s Voice, com o concerto para piano e orquestra nº 20 de Mozart interpretado justamente por Guiomar Novaes (quase me apetecia roubá-lo para o ouvir mais vezes no Porto, mas, como desde pequeno ouvia minha mãe dizer que era muito feio fazer isso, sempre procurei seguir esse bom conselho).

Era, de facto, o disco que sempre escolhia….eu, que não distingo um Dó de um Ré, ficava sempre deliciado, logo de início, com aquela introdução espantosa e quando o piano aparece, então eu entrava num outro mundo.

Não me sei explicar de outro modo…..sei que gostava de levar para o outro mundo este concerto, a par dos quartetos de Beethoven, um conjunto que sempre me faz pensar que só um génio pode organizar na sua mente (em especial os últimos),….o que nunca pode ouvir como nós, felizes mortais.

Pois do nº 20 tenho um LP interpretado por Svjatoslav Richter e mais recentemente em CD com a interpretação de Malcon Bilson, um pianista de que nunca tinha ouvido falar….mas julgo que deveria ter também a mensagem de Maria João Pires, gravada pela Deutsche Grammophon.

Tudo isto, repito, sem distinguir um Dó de um Ré, tal é o poder da Música dentro de mim……Como me arrependo de não ter perguntado sobre Mozart, e também sobre Schumann, ao velho Óscar da Silva, que acabou os seus dias acolhido em casa de uma sua antiga aluna e vizinha de casa de meus pais em Leça… e como eu era amigo dos filhos da senhora, sempre procurava conversar com o senhor Óscar, como sempre era tratado carinhosamente naquela casa. Óscar da Silva, aluno de Clara Schumann, disse-me que o seu exame final em Leipzig foi o também belo concerto para piano de Schumann (naturalmente, digo eu).

E, por hoje, por aqui me fico”.

Óscar da Silva (1870-1958), compositor e exímio pianista, legou uma produção onde não falta o apelo à virtuosidade. O seu idiomático técnico-pianístico estaria a atender às suas mãos, naturalmente possuidoras de grande abertura”. Em digressão a Portugal em 2009 apresentei algumas criações de Óscar da Silva.

Clique para ouvir o Concerto para piano e orquestra nº 20 em ré menor K. 466 de Mozart na interpretação de Guiomar Novaes, sob a regência de Hans Swarowsky. Gravação de 1953.

https://www.youtube.com/watch?v=TgVq3HQwWPI

Romeu Pinto da Silva, também formado em arquitetura, tendo estudado igualmente no Conservatório Nacional, teve ativa ação diretiva em várias Instituições voltadas às artes em Portugal. Chamou-me atenção o impacto simultâneo que o blog anterior causou nos dois ilustres amigos portugueses. Por sua vez, Romeu Pinto da Silva escreve:

“Fique sabendo que me emocionou muito o facto de você me ter falado da grande Guiomar de Novaes. Foi ela que, tinha eu entre 14 e 15 anos, me deu a conhecer o 4º concerto para piano e orquestra de Beethoven. Um LP de 25 cm Panthéon, que guardo religiosamente como uma autêntica relíquia e do qual  tenho cópia em CD, carinhosamente feita por mim há já muitos anos. Suponho que o meu Amigo conhece esta gravação, com a Orquestra Sinfónica de Viena dirigida pelo colossal Otto Klemperer.

O desaparecimento da Guiomar não é caso único! O que é feito do Wilhelm Backhaus e do Arhur Schnabel???

Mas…. temos agora os Trifonov’s.…..e outros quejandos…..

Estou-lhe muito grato por ter trazido até a minha ‘quarentena’ a evocação da grande Música de Guiomar Novaes”.

O arquiteto paulista Marcos Leite comenta: “Mais um belo texto e resgate da memória cultural-musical tão desprezada pelos pobres meios de comunicação. Não conheci pessoalmente Guiomar Novais nem Magdalena Tagliaferro, mas tenho com ambas ligações indiretas. Luiz Octávio, filho de Guiomar, foi amigo do meu pai, gentil e educado, recordo com pesar seu precoce e trágico desaparecimento. Quanto à Tagliaferro, minha filha foi aluna da Fundação, que infelizmente teve que encerrar suas atividades devido às dificuldades de manutenção, a despeito do empenho e dedicação da direção. Lembro ainda de gravações de ambas em discos 78 rpm originários da Casa Sotero, que era do meu avô. Situada na Rua São Bento, além de pioneira na gravação de discos, importava instrumentos musicais e partituras. Alguns anos após o falecimento do meu avô, no começo dos anos 60, a família vendeu a loja. Tempos idos…”.

Gildo Magalhães, professor titular da FFLECH, escreve: “Ótimo relembrar Guiomar Novaes! O comentário sobre o YouTube foi mordaz e certeiro!”

A professora titular aposentada da USP, Maria Stella Orsini, autora do livro mencionado no blog anterior sobre Guiomar Novaes, observa: “Que felicidade ver a sua homenagem para a nossa intérprete maior neste Dia das Mães”.

Tantas outras mensagens teceram rasgados elogios à Guiomar Novaes. Trazem esperanças.

I received many messages with comments on the previous post about the great pianist Guiomar Novaes. By coincidence, two of my Portuguese friends who do not know each other have written about the emotion felt when listening to Guiomar’s music in the distant days of long-playing records. Many other readers praised her talent with rapturous applause.  I have selected some of the messages and they are the post of this week.