In Memoriam

Melodia é fundamental.
Que me perdoem os compositores
que não conseguem compor uma melodia.
É o que se canta,
onde está toda a beleza e força de expressão da música.
O dom da melodia é o dom básico do compositor.
Gilberto Mendes
(Viver a Música)

A mais profunda tristeza tive-a no meio da manhã do dia 2 de Janeiro. Estava a tomar uma ducha quando ouvi pela Rádio Jovem Pan a notícia de falecimento de Gilberto Mendes, ocorrida na noite anterior. Lágrimas se misturaram à água do chuveiro e lembrei-me após, de meu telefonema ao Gilberto, em meados de Junho de 1995, comunicando-lhe a morte repentina de nosso grande amigo, o notável compositor português Jorge Peixinho (1940-1995). Gilberto teve de desligar seu aparelho, pois o pranto jorrou-lhe. Gilberto Mendes, o mais importante compositor brasileiro de música clássica ou de concerto destas últimas décadas. Também o criador em atividade mais divulgado pelo mundo.

Nosso relacionamento foi pleno por mais de trinta anos, sob a égide da música, mas onde não faltou a frequência às artes, à literatura e ao bem querer em sua acepção mais transparente. Caráter impoluto, generosidade para com todos os músicos que o procuravam para aconselhamento, amigo impecável, escritor de pena fácil e competente, crítico musical arguto, marido, pai, avô extremado e amante absoluto de sua geografia no planeta, sua Santos, porto seguro que o inspirou em muitas das mais importantes criações da música clássica ou de concerto que nosso país já conheceu.

N’um escrito In Memoriam a Gilberto Mendes sempre ficariam a faltar muitos elementos substanciais. Como não abordar o compositor irreverente e denunciador das mazelas e desleixos do governo? Vila Socó, meu amor é obra instigante, que faz o ouvinte não se esquecer da tragédia que se abateu sobre Cubatão aos 25 de Fevereiro de 1984, quando dezenas de pessoas morreram carbonizadas mercê da incúria administrativa. Outras tantas obras apontaram desacertos. Denunciava também, em sua coluna mantida durante décadas em “A Tribuna”, de Santos, a incultura de administradores quanto à Cultura, mas incentivava músicos que se apresentavam na cidade, mormente os jovens, faixa etária basicamente abandonada pela “crítica” de hoje em nossas cidades. Lutou também muitos decênios pela sobrevivência do “Festival Música Nova”, por ele criado. Assinou manifestos, polemizou, criou obras permanentes e tantas mais realizações que ampliam o significado da dignidade humana…

Preferi, nesta homenagem, a inserção de artigo publicado recentemente em Portugal na Revista Glosas (nº 13), em minha coluna “Ecos d’Além Mar”, pois o núcleo temático da revista, lançada em Novembro último, foi a ele dedicado. Lembro ao leitor que, no início de 2014, Edward Luiz Ayres de Abreu, Diretor de Glosas, e eu estivemos em Santos com o objetivo de entrevistar Gilberto Mendes para a publicação mencionada.

Transcrevo na íntegra meu texto publicado em “Ecos d’Além Mar”. Foi Gilberto que me aconselhou a escrever sobre nossa relação compositor intérprete, privilegiando as obras que apresento em público de 1985 ao presente. Nesse desiderato, escrevi o que segue, a ter como epígrafe frase precisa do grande Stravinsky, um dos eleitos de Gilberto Mendes, e que dimensiona essa absoluta simbiose entre o criador e aquele que traduzirá sonoramente a criação. Gostaria de frisar que já colocara minha posição sobre essa relação, sendo o intérprete o corredor de revezamento que passa o bastão para o próximo (nova geração) e o compositor de mérito o maratonista a correr percurso sem fim. A função do intérprete é transmitir a mensagem, mas a obra qualitativa, essa, permanece na história através dos séculos (“As Mortes do Intérprete”, Cultura de O Estado de São Paulo, 24/12,1988,pgs. 6 a 8).

“Ecos d’Além Mar” (Lisboa: Revista Glosas, 2015, nº 13):

“A entidade musical apresenta, pois,
essa estranha singularidade
de conter dois aspectos de existir simultânea e distintamente
sob duas formas, separadas uma da outra pelo silêncio do vazio.
Essa natureza particular da música comanda a sua vida própria
e suas repercussões na ordem social,
pois ela supõe duas espécies de músicos: o criador e o executante.
Igor Stravinsky

Um dos mistérios da criação seria a ideia que leva à composição e à provável divulgação. Qual a origem do pensamento primeiro que possibilita a elaboração? Estimulada ou autogerada, a ideia, à maneira de um leque, abre-se para a criação que é destinada à formatação pautada, manuscrita ou eletronicamente. O mistério em torno desse infinitesimal instante que precede a ideia teria basicamente três vertentes: o estímulo externo, o acervo cultural do compositor ou, ainda, o acaso.

Conheci Gilberto Mendes na década de 1970, quando descia de São Paulo à sua cidade natal, Santos, para recitais de piano. Encontros apenas casuais, sem consequências maiores. Nosso relacionamento estreitou-se quando ingressei na Universidade de São Paulo em 1982, onde fomos colegas desse ano até a sua reforma em 1992. Período de grande riqueza de entendimento, pois éramos os únicos que trazíamos marmitas para o almoço às quintas-feiras, dia das aulas de Gilberto. À mesa estreitamos laços amistosos e musicais, temas recorrentes em todas nossas conversas. Durante o dia, em momentos de descontração, Gilberto ia à minha sala e continuávamos a falar sobre música. Gostava de me ouvir tocar Fauré, Scriabine, Debussy e Albeniz. ‘Daria toda minha obra para ser o autor do 4º Noturno de Gabriel Fauré’, confessou-me.

Composições nasceram de nosso congraçamento. À medida que nos aprofundávamos na enriquecedora relação, Gilberto, sempre atento aos meus pedidos, passado algum tempo trazia-me cópia de nova partitura. Apresentei-as em público e gravei diversas na Bulgária e na Bélgica. À guisa de registro, menciono a lista, toda ela originária desse entendimento compositor-intérprete: Il Neige… de nouveau! (1985), alusão à célebre Il Neige!, de Henrique Oswald (vide Glosas nº 9 – núcleo temático dedicado a Henrique Oswald); Viva-Villa, homenagem a Villa-Lobos (1987) no ano de seu centenário. Trata-se de peça minimalista e uma das mais festejadas criações de Mendes pelo mundo. Um Estudo? Eisler e Webern Caminham nos Mares do Sul… (1989), composta para apresentações que realizei em Potsdam e Berlim, na antiga DDR, seis meses antes da queda do muro; Outro Estudo? Ainda Ulysses (1990), versão para piano solo de Ulysses em Copacabana Surfing with James Joyce and Dorothy Lamour para dez instrumentos; Lenda do Caboclo. A Outra (1992), como lembrança de A Lenda do Caboclo, de Villa-Lobos; Estudo Magno (1993), criação apresentada em minha Aula Magna na Universidade de São Paulo. Escreve Gilberto Mendes: ‘José Eduardo, como sempre, queria um estudo para sua coleção de estudos. Compus então um Estudo Magno, procurando certa magnitude, como pedia o título, do mais simples ao mais complexo, do bem tonal para o totalmente atonal, sempre no mesmo andamento, mas aumentando gradativamente a velocidade pelo valor das notas’. A seguir compôs O Pente de Istanbul. Um Outro (Estudo?) (1995), versão para piano solo de O Pente de Istanbul para percussão. Esta e a de Ulysses em Copacabana… surgiram, pois entendi serem as duas propícias ao piano solo, sendo que o dileto amigo assim também entendeu. A seguir nasce Estudo, Ex-Tudo, Eis Tudo pois – In Memoriam Jorge Peixinho (1997), composição gerada a partir do Étude Die Reihe-Courante, de Peixinho (1992). Gilberto Mendes, ao mencionar gravações de suas obras que realizei na Bélgica e lançadas em CD pela Academia Brasileira de Música, comenta: ‘esse CD inclui ainda  Estudo, Ex-tudo, Eis tudo pois, também pedido por José Eduardo, com o qual homenageamos um grande amigo comum, o compositor português Jorge Peixinho’.  Ao leitor, diria que nesse Estudo Gilberto Mendes se utiliza de elementos a gosto de  Peixinho – reminiscências de Darmstadt? -, dialogando com os seus: coral a privilegiar acordes que fazem parte do idiomático do compositor santista, citações tão ao seu agrado, entre as quais  lembranças dos Funerais de Liszt – obra que apresentei em recital na cidade de Santos dias antes da criação do In memoriam ao músico nascido em Montijo – e determinadas nonchalances jazzísticas. Gilberto Mendes comporia ainda Étude de Synthèse (2004). Comenta o autor: ‘José Eduardo curte bastante o que ele chama de os seus acordes quando fala comigo e me pediu um estudo novo para tocar em concertos na Europa, mas queria que fosse feito só com os tais de meus acordes, uma sequência deles. Tive dificuldades, a princípio, pois os meus acordes, afinal, são aqueles de todas as músicas modernas, as sétimas, as nonas, da música francesa, do jazz. Mas, como sempre, obedeci, e o próprio José Eduardo deu o título, Étude de Synthèse. Uma síntese de meus acordes, pinçados das muitas músicas que lhe dediquei, equalizados numa sequência em que se ligam abruptamente, massacrados pelo implacável compasso 9 por 8, como se todos constituíssem uma só linha muito longa. Um passeio pelo meu mundo harmônico’. Largo do Chiado (2008) é uma pequena peça com citações temáticas do fado A Severa, escrita para comemoração do cinquentenário de meu primeiro recital em Portugal (14/07/1959), na Academia de Amadores de Música em Lisboa, a convite do insigne Fernando Lopes-Graça (1906-1994). Apresentei Largo do Chiado na mesma sala da AAM no dia 26 de maio de 2009.

Parte considerável das obras foi destinada ao meu projeto de Estudos para piano iniciado em 1985 e que conta até o presente com mais de 80 criações específicas, vindas de todos os quadrantes. Jocosamente, Mendes escreve: ‘Já compus vários estudos para o José Eduardo Martins, que não me deixa em paz, é insaciável, sempre quer mais um”. Só não escreveu que a ideia original partiu dele, ao elogiar o projeto de seu amigo, pianista e compositor Yvar Mikhashoff (1941-1993), que solicitou e recebeu cerca de 100 Tangos provenientes de tantos países, entre os quais The Three Fathers (1984), de Gilberto. Sem esses meus apelos para que compusesse Estudos, a Música estaria certamente privada de algumas obras-primas que nasceram a partir de nosso convívio.

Certo dia, almoçando no apartamento de Gilberto Mendes, em Santos, indaguei-lhe sobre suas composições para piano escritas no passado. Disse-me que eram sem importância e que estavam todas em um baú, mas que por elas não mais se interessava. Após insistência, sua dedicada esposa Eliane abriu a grande caixa de madeira e retirou de seu fundo um pacote cuidadosamente embalado. A primeira obra que abri foi a Sonatina Mozartiana (1951). Sentei-me ao piano e toquei para Gilberto. Ao final, ele disse: “Não é que ela é bonita!”. Gilberto Mendes relata essa prospecção arqueológica: ‘…sou-lhe grato por haver tocado toda a minha obra inicial, do período de minha formação praticamente autodidata, que estava esquecida nas gavetas. Cheguei, muitas vezes, a pensar em jogá-la fora… Sempre pensei em fazer uma revisão de todas essas peças muito antigas antes que alguém pudesse tocá-las, mas acabei não tendo tempo e José Eduardo acabou tocando-as em seu estado primitivo. Para surpresa minha verifiquei que elas não precisam de nenhuma revisão’. Continua, com uma ponta de ironia: ‘Quando jovens e desconhecidos, podemos levar a maior obra-prima a um intérprete, que ele nem se dignará a olhá-la (a não ser que seja um do tipo do José Eduardo Martins). Na minha idade tenho que cuidar muito do que apresento, porque qualquer porcaria que compuser será tocada’. Todo esse passado compôs um recital inteiro, que apresentei em várias cidades: Pequeno Álbum para Crianças (1945-1952), Sonatina Mozartiana (1951), Sonata (1953), 5 Prelúdios (1945-1953), 16 Peças para piano (1949-1959). Há verdadeiras joias nessa primeira fase gilbertiana. Dessas obras apresentadas gravei a Sonatina Mozartiana em Sofia, na Bulgária, apresentando–a regularmente em recitais. Já há várias outras gravações dessa deliciosa Sonatina Mozartiana realizadas por outros pianistas nos Estados Unidos, Europa e Japão.

Nosso relacionamento estendeu-se pelo repertório camerístico e piano e orquestra, pois apresentaria em público ao longo dos anos: Saudades do Parque Balneário Hotel (piano e saxofone alto), Longhorn (piano, trompete e trombone), Ulysses em Copacabana Surfing with James Joyce and Dorothy Lamour (flauta, clarineta, trompete, sax alto, 2 violinos, viola, violão, contrabaixo e piano); Cinco canções para canto e piano; Concerto para piano e orquestra; Rimsky (quarteto de cordas e piano), obra apresentada em tournée por várias cidades da Bélgica em 2004 (Rubio strijkkwartet). Ótimos músicos participaram das apresentações no Brasil de todas as obras precedentes.

Nos estertores da vida acadêmica de Gilberto Mendes incentivei-o a fazer o doutorado direto, uma das possibilidades para a obtenção do título e que faz parte da legislação da USP. Hesitou por várias vezes, mas aquiesceu e realizou uma tese extraordinária, que foi saudada pelo júri que tive a honra de integrar. Logo após Gilberto completaria 70 anos e estaria reformado. Sua tese, modificada, foi publicada pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp / Giordano) em 1994 em primorosa formatação como livro, Uma Odisséia Musical – Dos Mares do Sul à Elegância Pop/Art Déco.

Em 2013 Gilberto Mendes, compositor que teve sempre em mente títulos curiosos, quiçá desconcertantes para suas criações, mas que levam à reflexão, escreveu uma novela curta e instigante: Danielle em surdina, langsam (São Paulo, Algol, 2013). Na rubrica Ecos d’Além Mar de Glosas nº 11 escolhi como tema o pequeno livro de Gilberto em que há a presença do autor, consciente ou inconscientemente, como observador sempre atento a reter lembranças…

Neste número dedicado ao notável Gilberto Mendes, grande compositor que sempre compôs pelo prazer de compor e que se libertaria a tempo de amarras esterilizantes, criando um estilo rigorosamente pessoal, diria, verdadeiras impressões digitais – a escuta de suas diversificadas obras leva facilmente ao autor -, crítico competente, degustador do momento presente da existência, escritor amoroso e diletíssimo amigo, fica nestes Ecos d’Além Mar meu tributo carinhoso”.

As frases de Gilberto Mendes no texto acima foram extraídas de seus livros resenhados em meus blogs semanais: Uma Odisseia Musical – dos mares do sul à elegância pop/art déco (13/10/2007); Viver sua Música: com Stravinsky em meus ouvidos, rumo à avenida Nevsky (04/04/2009). Quanto à mencionada Danielle em Surdina, Langsam, a curta novela mereceu também resenha em post (06/04/2013).

A menção de episódio ocorrido em Gent, Bélgica, aos 17 de Março de 2008, dá bem a medida da comunicação total de peça emblemática de Gilberto Mendes. André Posman, diretor da De Rode Pomp, pediu-me, dois dias antes de meu recital em sua sala de concertos, que fizesse na manhã seguinte da minha apresentação um recital com obras menos densas e mais curtas para colegas de escola de seus dois filhos. Aquiesci com o maior prazer. Ao executar Viva-Villa, minimalista e plena de rítmica contagiante, fez-se a magia, pois espontaneamente os miúdos subiram ao palco e a peça de Gilberto foi sendo repetida algumas vezes. No final, mais de 50 crianças dançavam com gestos os mais diversos. Alegria plena. Em blog de 2008 escrevi sobre o encantamento daquela manhã e, ao contar -lhe o acontecido, Gilberto deu boas risadas. A foto é testemunha.

Clique para ouvir com José Eduardo Martins ao piano:

À-propos, a morte de Pierre Boulez (1925-2016), quatro dias após o falecimento de Gilberto Mendes, evidencia carreiras distintas. Boulez, francês, compositor, regente e ensaísta, fundador do IRCAM e do “Ensemble Intercontemporain”, foi talvez o mais influente músico da segunda metade do século XX, homem da Instituição, como defendia. Mendes frequentou Darmstadt em seu período áureo e teve contatos com Boulez. Diferentemente do compositor português Jorge Peixinho, que seguiu voluntariamente em sua carreira aconselhamentos de Darmstadt, Gilberto, também voluntariamente, soube pouco a pouco romper amarras, e o exemplo de Viva-Villa é claro, assim como de dezenas de obras após o gesto natural. A descontração gilbertiana – não confundir com desconstrução – tornar-se-ia uma de suas características primordiais. Foi a atitude voluntária que levou a criançada ao palco.

Gilberto Mendes lega-nos um acervo composicional extraordinário. Frequentou muitos gêneros musicais, “experimentou” várias tendências, inclusive com a utilização de meios da eletroacústica. Quanto às técnicas de composição, conhecia-as, e da tradição seu passado é testemunha. Aberto às artes, apreendeu conteúdos de correntes poéticas mais hodiernas, amalgamando-as, com raro êxito, às suas estruturas musicais. Gilberto recebera das musas um fino humor, por vezes irônico, que transparecia em tantas criações a partir de titulações hilariantes. Após a aposentadoria continuamos contatos permanentes e visitei-o várias vezes para almoços que emanavam a amizade sincera. A dedicadíssima esposa Eliane viveu quarenta anos ao seu lado, “uma segunda mãe”, como escreveu Gilberto na dedicatória de Uma Odisseia Musical, com ele viajando – sempre – pelo mundo quando das apresentações de suas composições. Pude sempre testemunhar com admiração a atenção absoluta que dispensava a Gilberto, que exalaria o último suspiro em seus braços amorosos. Seus filhos do primeiro casamento notabilizaram-se em áreas artísticas. Odorico e Carlos estiveram sempre próximos do insigne compositor, prestigiando-o e promovendo-o. Sinto que perdi uma referência fundamental em minha vida. Friso, essencial. No caminho que porventura ainda terei de trilhar, sua companhia é certa, através das tantas obras que privilegiam minha trajetória e que continuarei a tocar, aqui e alhures. Conforto espiritual e estético. Gilberto, um dos meus compositores eleitos. Gratidão ad eternum

Clique para ouvir com José Eduardo Martins ao piano a peça in memoriam Jorge Peixinho:

Today’s post is dedicated to Gilberto Mendes (in memoriam), a dear friend for more than thirty years, witty music critic and writer and, in my view, one of the most important Brazilian composers ever. I am honored to have presented the world première of a great number of his works, many of them generously dedicated to me. In tribute to him, I transcribe my article published on last November’s issue of the Portuguese music magazine Glosas, largely dedicated to Gilberto Mendes.