Todos Assistem e Nada Acontece

Falta-nos a voz com que protestar.
Almeida Firmino

Quantos não foram os posts em que me posicionei  em relação às incomensuráveis distorções a que diariamente assistimos no Brasil, sem que nada, mas rigorosamente nada, aconteça. Ultimamente, membros do Congresso brasileiro defendiam acaloradamente salários extras, 14º e 15º, não considerando, frise-se, que há Assembléia Legislativa de um dos Estados da Federação que recebe além. Em outro debate temático, para arrasar quaisquer considerações relativas à moralidade, senador com mais de 60 assessores (sic) defendia com veemência parlamentar essa “naturalidade”. Os Três Poderes estão repletos de exemplos de distorção. Inchados, pagam altos salários para batalhão de não concursados e altíssimos outros a funcionários que sabem, através da interpretação de leis e regulamentos, obter privilégios que os levam a alturas salariais estupidamente elevadas. Jornais, rádio, televisão, internet denunciam esses horrores e nada, mas nada, acontece. Perdemos no Brasil as forças interiores para reagir. Quando se fala em reunir o povo para manifestações contra essa chagas que corroem o país, como a mater corrupção, a burocracia excessiva, a máquina política egocentrada nesse “nirvana” denominado Poder  pouquíssimos comparecem, diferentemente das aglomerações evangélicas, paradas gays e outras mais que atravancam o trânsito já caótico da cidade.

A mídia já cansou de mostrar os preços dos carros no Brasil e no Exterior. É chocante a diferença. O governo arrecada uma “dinheirama” da produção automotiva e as montadoras silenciam quanto aos até escorchantes lucros que obtêm no país. Os preços de restaurantes médios estão muitíssimo acima dos de grande categoria na Europa, o índice MacDonald’s evidencia o Big Mac bem superior ao que é cobrado no Exterior, o preço da Ponte Aérea São Paulo-Rio é verdadeiro assalto, os bancos têm lucros absurdos, os serviços nas cidades brasileiras estão cada vez mais elevados, os preços das grandes redes de supermercados são alvo de reclamações generalizadas, a telefonia no país é caríssima, os impostos aferidos pelo Estado batendo recordes sobre recordes. Em tantos segmentos, a voz das ruas, roucas, mas audíveis, são “escutadas” pelos que caminham pela cidade. Na feira-livre, essa voz acaba por ser uníssona e os preços dos produtos comentados pelos que a frequentam e pelos laboriosos feirantes.

Esperava um exemplo típico para escrever este post. Recebi da França um pacote com revistas e um livro sobre música, livres et brochures. O amigo enviou-me a encomenda no dia 13 de Março às 12h. A entrega deu-se no dia 19, ou seja, no quinto dia útil. O preço pago pelo remetente para essa entrega especial EUR$ 5,49, corresponde aproximadamente a R$ 13,20. A primeira impressão foi de choque, pois estou habituado a enviar livros e revistas para amigos do Exterior e sempre considerei elevadíssimas as quantias pagas. Mesmo um livro enviado para uma cidade próxima como Rio de Janeiro e com peso bem inferior custou-me praticamente o dobro para o mesmo prazo de entrega. Atiçado pela curiosidade, levei a encomenda até a agência dos Correios mais próxima, virei o envelope ao contrário, livre de qualquer endereço ou carimbo, e pedi para a atendente verificar o preço para entrega rápida na França. Disse-lhe o nome da cidade. A simpática funcionária comunicou-me que, se quisesse que fosse entregue em 2 ou 3 dias, custaria aproximadamente R$ 100,00, e que para um prazo maior, de 6 a 13 dias, num envio denominado “prioritário com registro”, R$ 65,35 até 1.200 gramas. Meu envelope estava a pesar exatamente  1.180 gramas, pois mantido como recebi, com livro e revistas.

Prezados leitores, o que se pode verificar é a diferença escorchante. Essa realidade nossos governantes conhecem, estão cansados de ler, ver e ouvir através da mídia. Todavia, a equiparação com a realidade dos preços da Europa, no caso, faria com que certamente menos dinheiro entrasse para esse imenso Leviatã, o monstro que tudo devora. O meu insistente “nada a fazer” continua, pois, como reza o poeta açoriano Almeida Firmino: “Falta-nos a voz com que protestar”.

On the outrageous cost of living in Brazil, where daily life — due mainly to government abusive taxes and entrepreneurs’ profit margins — has become incredibly expensive in comparison with Europe and the US, without the counterpart of good salaries and quality in public services.