Nossos maiores cientistas opinam: Vacina e Máscara
Coordene, isole, impeça o fluxo e vacine.
Miguel Nicolelis
Médico e cientista brasileiro de renome mundial
(entrevista ao UOL, 18/03/2021)
Regina e eu aguardávamos pacientemente a segunda dose da vacina Oxford AstraZeneca. Desde Março de 2020 temos mantido cuidados necessários, quais sejam, porte de máscaras e álcool gel. Evitamos reuniões e visitas nesse longo período. Regina, totalmente confinada, só sai de casa para consultas regulares e eu para compras de abastecimentos ou para as duas solitárias corridas semanais de 8 e 10k pelas ruas de minha cidade bairro, Brooklin-Campo Belo.
A segunda dose não excluirá os cuidados que continuaremos a ter. Pouco sabemos sobre o Covid-19, mas, em uma entrevista dada a um importante jornal inglês, um dos responsáveis pela vacina Oxford AstraZeneca comentou que há dois tipos de vacinas, a inoculada em nossos braços e a máscara. Presentemente, utilizamos quando necessário, duas proteções nasobucais.
Em termos brasileiros, os maiores nomes entre médicos, infectologistas e cientistas têm apregoado com insistência sobre a necessidade da vacinação, que, apesar de problemas quanto à disponibilidade dos imunizantes distribuídos no país, já ultrapassou 65.000.000 de doses aplicadas, considerando-se a primeira dose (20,75%) e a segunda dose (10,22%) da população vacinada, sendo que 43.936.007 já receberam ao menos uma dose (27/05/2021). É mundialmente conhecida a capacidade brasileira no campo da vacinação.
Infelizmente, não apenas parte considerável da juventude, mas igualmente adultos em plena maturidade têm insistido em aglomerar-se em festividades, baladas, praias e outras reuniões coletivas. Não temos minimamente a disciplina dos povos do Extremo Oriente e a responsabilidade em relação ao outro parece ser uma quimera para irresponsáveis em nosso país. Educação e civilidade continuam distantes de parte de nosso povo, mercê do descaso de nossos governantes. Quanto à pandemia, o presidente se mostra negacionista convicto e alheio à tragédia; o ex-presidente, oportunista convicto, denigre o Brasil em entrevistas à mídia internacional a prejudicar sensivelmente nossas relações econômicas com o Exterior. É de se lamentar ambas as atitudes.
Os grandes laboratórios produtores da vacina contra o covid-19 estão a obter lucros extraordinários com aquelas ora à disposição. Faz-me pensar em dois fatos que considero relevantes. Décadas atrás, ao visitar com um amigo um dos mais importantes laboratórios do mundo, chamou-me a atenção um monumental painel instalado no saguão, a apresentar os objetivos essenciais da empresa. Após a série de auto louvações de seus objetivos, uma última atingia o fulcro, pois rezava que a finalidade fundamental era o acionista. Sob outra configuração, no meio da pandemia um dos maiores empresários do país observou que é nesses momentos que estão as maiores oportunidades, enquanto a mídia divulgou há pouco tempo que algumas das maiores fortunas do planeta duplicaram ou triplicaram nesses trágicos tempos. Essas posturas, sem quaisquer princípios éticos e morais, evidenciam que estamos distantes de um mínimo de racionalidade.
É alvissareira a posição de mais de uma centena de países propondo a quebra de patentes dos imunizantes durante esse sombrio período. Oxalá essas patentes sejam quebradas.
No último dia 24 lá estávamos para receber a segunda dose da AstraZeneca na UBS Max Perlman na Vila Nova Conceição. Bem organizada, o atendimento foi rápido.
Fato realmente preocupante está a acontecer, pois milhares de pessoas estão deixando de tomar a segunda dose. Urge por parte do governo estadual divulgar mais acentuadamente o grave problema que pode advir de tal posicionamento. Sem a aplicação que ratifica os efeitos da primeira dose todo esforço para que um painel dos imunizados se complete poderá ficar comprometido.
Sob outra égide, a segunda dose, segundo nossos especialistas, não garante a imunização por completo. Há variações quanto à eficácia de cada vacina. Teremos ainda, durante um período rigorosamente desconhecido, que conviver com a máscara, o álcool gel, evitando aglomeração, as insanas baladas e bailes funks nas periferias, festividades e bingos nos bairros mais privilegiados, assim como reuniões familiares ou sociais com número inadequado de integrantes.
Que as mentes se abram, que a politização não prejudique ainda mais as consciências desavisadas que, mercê do negacionismo, acreditam bastar a medicação não vacinal para se evitar o contágio. A competente pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Margareth Dalcomo, entende que “a discussão sobre tratamento precoce é uma perda de tempo absolutamente imperdoável nesse momento da pandemia no Brasil” (uol debate, 26/05/2021), opinião corroborada por inúmeros médicos, infectologistas e microbiologistas do país, que se pronunciam diariamente pelos meios de comunicação. Todavia, a vacina continua a ser a salvação e, tanto a Fundação Oswaldo Cruz como o Instituto Butantã estão em trabalho full-time, empenhando-se no sentido de produzir vacinas, a AstraZeneca e a Coronavac, respectivamente. O imunizante da Pfizer paulatinamente está sendo introduzido em nossas terras e oxalá outros cheguem. Que os grandes laboratórios mundiais que produzem os insumos essenciais entendam o apelo dos menos favorecidos, os mais atingidos pela pandemia, e permitam a quebra de suas patentes nesse trágico e prolongado período. Creio ser o apelo da Humanidade.
Regina and I took the second dose of the Oxford AstraZeneca vaccine. The WHO and the vast majority of our most respected infectologists indicate the vaccine as indispensable to all Brazilian citizens, as well as the use of masks, even after the vaccine. Unfortunately, negationists in the country, starting with the president, despise the scientist’s opinion on Covid-19.